“O arcebispo disse-me para eu ir
para Brunhais porque havia
estrada até à Igreja”
Com 75 anos de idade, o Padre Jaime de Jesus Castro Andrade completa, no próximo dia 9 de
Julho, as Bodas de Ouro Sacerdotais. Nascido em
Jesufrei, no concelho de Vila Nova de Famalicão, o padre Jaime Andrade foi ordenado a 9 de Julho de 1961. Actualmente, é pároco de
Travassos e
Brunhais e
administrador paroquial de
Sobradelo da Goma. O “Maria da Fonte” foi ao encontro do Padre Jaime Andrade e, na Obra do Amor Divino, em
Travassos, conversou com o sacerdote e ficou a conhecer um pouco destes 50 anos dedicados à Igreja.
Maria da Fonte - Como foi o seu percurso até aos dias de hoje?Padre Jaime - Nasci em
Jesufrei, no concelho de Vila Nova de Famalicão, em Dezembro, pelo Natal. Nasci no dia 24, à noite, mas civilmente está o dia 27. Naquele tempo, era difícil
fazer os registos e o meu teve que ser feito em Nine. Naturalmente, para não não pagar multa, registaram-me como se tivesse nascido no dia 27 de Dezembro. Aqui, os paroquianos
celebram o meu aniversário no dia 25, que é feriado e dia de Natal.
Fui para o Seminário em Outubro de 1949, salvo erro no dia 7 de Outubro e ordenei-me em 9 de Julho de 1961.
Fui nomeado pároco de Esperança e
Brunhais, um ano mais tarde, porque queriam que eu residisse em
Brunhais. O arcebispo de então, António Bento Martins Júnior, disse-me para eu ir para
Brunhais porque havia estrada até à Igreja e em Esperança não havia, a estrada ficava praticamente cá em baixo, nas
Lourosas. Deixei a Esperança e o senhor padre Aberto Gomes disse-me que iria pedir para que eu ficasse com
Travassos. Mais tarde, assim foi. Naquela oca
sião, o padre Alberto veio falar comigo e pediu para eu ser o sucessor dele. Pediu-me, com as lágrimas nos olhos e a pingar nas minhas mãos, e eu não tive coragem de dizer que não.
MF - Como estava a freguesia de Travassos quando aqui chegou?PJ - A freguesia de
Travassos, como paróquia, estava bastante
desorganizada. O padre Alberto era, sem dúvida, um padre santo e sábio mas nunca saiu daqui, nunca saiu da casa dele, de junto da mãe. De maneira que, quem o mantinha era a família. Havia um ou outro paroquiano que lhe dava alguma coisas mas a maior parte dos paroquianos não dava nada pois diziam que era a família que o mantinha. Era difícil ser pároco em
Travassos. Era preciso reorganizar economicamente a paróquia. De maneira que ninguém queria fazer esse trabalho. O padre Alberto disse-me para vir mas que os paroquianos era com ele pois não queria mexer na parte económica.
Por volta de 1970, o senhor arcebispo pediu-me para tomar conta da
paróquia e, com toda a diplomacia, assim o fiz. O padre Alberto quando me via ficava muitíssimo contente. Tive que reorganizar, com muita diplomacia e jeito, a parte económica da
paróquia e, ao mesmo tempo, conhecer melhor a paróquia e os paroquianos.
MF - Como eram estas freguesias quando aqui chegou?PJ - Eram freguesias rurais e com falta de vias de comunicação. Aqui, em
Travassos, só havia uma estrada que chegava a
Brunhais, em terra batida, e esta daqui chegava a
Leiradela. Penso que foram construídas, também, por influência do senhor padre Alberto. Para Vieira, ainda me lembro de ser feita a estrada desde
Leiradela a Vieira. Já foi no meu tempo e era também em terra batida.
MF - Como se deslocava de uma paróquia para a outra?PJ - Quando aqui cheguei ia a pé. Só tirei a carta de condução em 1966. Quando fui para Esperança não havia estrada, não havia ligação de
Travassos a
Brunhais e não havia ligação de
Leiradela para Esperança.
Portanto, tinha que ir a pé. Para
baixo ia bem mas, na volta, quando vi
nha para cima demorava bem uns 45 minutos. Aqui, em
Travassos, apesar de muitos trabalharem no ouro, a maior parte dos operários era muito pobre. Havia uma meia dúzia que vivia bem mas os outros eram empregados. A maioria da freguesia era rural.