No dia 14 de abril de 1845

António Lopes nasceu há       
172 anos na Póvoa de Lanhoso

Consta do livro de assentos de batismo da freguesia de Fontarcada, arciprestado da Póvoa de Lanhoso, referente a 1845 que, às sete horas da tarde do dia 14 de abril desse mesmo ano nascera, naquela mesma paróquia, um indivíduo do sexo masculino a quem foi dado o nome de António Emílio. Era filho natural de Maria da Conceição (em documentos futuros será sempre referida como Maria da Purificação) e neto materno de José Miguel Fernandes e de sua mulher, Henriqueta Rosa Soares. O seu batismo teve lugar na paroquial de Fontarcada no dia 15 de abril, sendo padrinhos António Filipe Alves Vieira, cirurgião e morador na vila da Póvoa, e Emília Rosa, irmã da mãe do batizado e moradora no lugar da Quintã.
José Miguel Fernandes, seu avô materno era dono da Casa da Oliveira de Cima, no lugar de Pomarelho, onde a mãe do recém-nascido dera à luz. Proprietário agrícola de algum significado e homem de certo destaque social e político no meio, encontramo-lo, no ano seguinte de 1846, aquando da revolta da Maria da Fonte, nas crónicas de Azevedo Coutinho como “comissário da junta de saúde”, cargo que apenas lhe podia caber se pagasse um impostos de um determinado valor. Diz Azevedo Coutinho no seu folhetim ‘História da Maria da Fonte’ que José Miguel Fernandes “pôde, com as mais sensatas reflexões, dissuadi-las do intento” (falava do primeiro motim de Fontarcada), adiantando o cronista que “Este homem era bem quisto da gente da freguesia, pela sua honradez e cordura; e por isso as mulheres respeitaram-no e desistiram do seu propósito”. Também a nome do padrinho escolhido para o recém-nascido nos monstra ser a família bem relacionada na vila, já que António Filipe Alves Vieira, da família Lisboa, era não apenas cirurgião, mas chegou mesmo a ser presidente da câmara pela mesma altura.
Quando o menino nasceu seus pais ainda não eram casados, como se percebe pelo assento de batismo. Viriam a consorciar-se pouco tempo depois, tendo o casal gerado mais, pelo menos, quatro filhos e três filhas. Ser mãe solteira era, à época, bastante comum. Muitas parturientes nesse estado abandonavam depois os seus filhos à Roda (os chamados “expostos”), mas esta mãe amou profundamente o seu filho primogénito, dando-lhe toda a proteção que podia. Por isso, uma profundíssima ligação entre ambos durou até à morte da mãe, em agosto de 1910.
Quando esta casou com o pai do seu filho, Miguel José Lopes, natural e residente em S. Gens de Calvos, foi com ele habitar nessa freguesia. O seu António passava temporadas com os pais e outras com a tia e madrinha Emília Rosa, nas terras que esta possuía no lugar da Quintã de onde se deslocava também amiudadas vezes a Pomarelho. Pelo que antes se disse, conclui-se rapidamente que o rapazinho não nasceu miserável, nem sequer pobre, como tantas vezes se quis fazer crer. Era de família remediada quer por parte da mãe, quer pela do pai.
Entre Pomarelho, Calvos e Quintã gastou os seus anos de meninice. Não conseguimos apurar como, nem com quem, mas sabemos que aprendeu a “ler, a escrever e a contar”, ferramentas indispensáveis para, como aconteceu com tantos outros jovens do noroeste português, especialmente nos três últimos quartéis do século XIX, quando emigrou para o Brasil, se poder empregar no comércio.
Em 1852, contando 12 anos de idade (grande parte dos que abalavam para o outro lado do Atlântico partiam antes dos 14 anos para evitarem o recenseamento militar), embarcou no cais do rio Douro, numa barca batizada de “Leal”, tendo chegado ao Rio de Janeiro quarenta e um dias depois da partida.
No Brasil casou e enriqueceu, pelos negócios e pelo casamento. Mas o amor à terra natal nunca o abandonou. Pelos quarente anos e depois de quase três décadas de trabalho no Rio de Janeiro, voltou a Portugal e comprou casa na sua terra.
O resto é por demais conhecido: António Lopes – cujo 172º aniversário do nascimento hoje se comemora – foi o maior benemérito que a Póvoa de Lanhoso conheceu ao longo da sua história contemporânea.