EDITORIAL

Armindo Veloso




  

Especulando

Hoje vou especular. Vou especular porque o tema que abordarei nunca poderá ou poderia ser provado na prática.
Vou falar do Orçamento de Estado para 2016 que foi aprovado pelo seu autor, o governo e pelos seus partidos à sua esquerda: PCP; Verdes e Bloco de Esquerda. Omito, não por despeito, o PAN porque ainda não se sabe bem o que aquilo é.
Então é assim, conheço desde sempre aquelas forças políticas à esquerda e sempre me lembro que com muito prazo de validade eles dizerem que votariam contra o orçamento de estado fosse ele como fosse – muitas das vezes nem o conheciam – viesse ele de onde viesse, PS ou partidos mais à direita.
Desta vez, porém, fartos das cadeiras, de napa, da oposição pela oposição e com um interlocutor mais à medida, António Costa, saltaram mesmo de uma forma mitigada para o couro do poder.
A minha pergunta base deste texto é: como é possível que em uníssono os partidos de esquerda anunciem e posteriormente votem favoravelmente o Orçamento de Estado quando 99% dele é parecido com o que aí vinha das forças mais à direita. Uma questão de ritmo?...
Menu: dá-se dois ou três euros a alguns reformados, os mais carenciados como é lógico e como já se fazia antes: mexe-se epidermicamente nos escalões de IRS que resulta num aumento ridículo no aumento do poder de compra da calasse média; na TSU, está quieto, o melhor é não mexer; no IVA, ridiculamente vai-se mexer numa parte, refiro-me à comida propriamente dita mas não se mexe nas bebidas e afins. Resultado: o encaixe passa de cerca de quatrocentos milhões de euros para cerca de cento e cinquenta. Esta alteração do IVA na restauração é na mi-nha opinião estúpida sem par por-que as receitas a que os empresários: pequenos, peque-níssimos ou médios vão encaixar vão directamente para os seus bolsos e nunca para o consumidor de restauração.
Ou seja: cócegas e mais cócegas que no final da linha não resultarão em nada ou quase nada na economia real.
Se o governo está à espera que estes cerca de setecentos milhões de euros que vão andar por aí vão fazer disparar a economia pode esperar sentado. Ou há muita ingenuidade nisto tudo ou há má fé na lingua-gem.
Para terminar: quando Passos Coelho insinuou que os jovens deviam sair da sua zona de conforto, ou seja emigrar, caiu o Carmo e a Trindade. Agora que se tem assistido a insinuações e até sugestões bem mais assintosas, nada. Querem alguns exemplos?
Os combustíveis estão mais caros? – cujo valor como sabemos se reflecte em tudo o resto - Andem mais de transportes públicos. A restauração aumentou? Façam mais refeições em casa. O tabaco aumentou? Fumem menos que até lhes faz bem à saúde.
Bastavam estes exemplos para a esquerda estar uma manhã inteira a assar o Coelho em lume brando.
O que é que a esquerda tem?... E, já agora, o que é que os papalvos da direita têm? Ah, esses já sei o que têm. Têm complexos e mais complexos.

Até um dia destes.