EDITORIAL

Armindo Veloso




  

Levar e trazer

Um dos temas mais recorrentes nos debates nos mais variados media – e mesmo nas conversas de café – é o flagelo da emigração dos nossos jovens.
Dizem, e bem, que ter de ver partir dezenas de milhar de jovens, uma boa parte deles licenciados, para terem alguma oportunidade na vida é um drama. Também acho.
Também acho se vir a coisa de uma forma muito primária como a maioria de nós tende a ver e então se formos os pais dos tais emigrantes está mesmo o caldo entornado.
Sendo solidário como já disse com as pessoas que se revoltam pelo seu país ‘expulsar’ tantos e tantos jovens promissores para outros países também gosto de parar para pensar nas mais-valias que esse êxodo tem se for reversível dentro de um, dois ou mesmo três anos.
Há sempre o risco de muitos desses jovens ficarem nos países que os acolheram e lhes abriram oportunidades que cá não tinham. Mas a parte desses que admito ser a grande maioria voltará e os tais países, mais de 90% europeus, que os acolheram dão-lhes um conhecimento, no sentido lato do termo, que num futuro não muito longínquo eles e elas vão dar como bem empregue.
Estatisticamente não andarei longe da verdade se disser que o grosso dos nossos jovens ausentes em países europeus distam duas ou três horas de avião do seu ninho de origem. As viagens, essas, nos tempos que correm custam dez reis de mel coado.
Sei por experiência própria familiar e de relações de amizade o quanto crescem em termos culturais e desenvoltura esses jovens passado um único ano de ausência das saias da mãe.
Não sendo dos que gostam que se utilize a palavra emigrante quando a deslocação é feita para países da União Europeia ou, ainda mais, para países da zona euro, vejo com muito bons olhos o desenvolvimento que esses rapazes e raparigas adquirem em pouco tempo. Quando os vejo  de três em três meses, no máximo, por aqui quão diferentes estão os Migueis, os Brunos, as Anas, os Vascos, as Teresas, os Antónios, as Marias, etc.
É muito melhor para eles e para nós, pais, vê-los por esses países fora a ‘fazerem-se’ do que por aqui na cama até às quatro da tarde.
Até um dia destes.