EDITORIAL

Armindo Veloso




  

Véus

Num filme que vi com inte-resse um dos temas essen-ciais nele abordado era a revolta de um adolescente perante a morte prematura da sua mãe com cancro.
Durante grande parte do filme o adolescente não conseguia ter uma relação próxima com o pai porque lhe atribuía responsabilidade na morte da mãe. Dizia que o pai desistira do apoio que então  lhe dera e que foi esse facto que ajudou a que a mãe morresse precocemente.
Lá para a parte final do filme o jovem chegou ao ponto de tentar o suicídio.
Como convém nos filmes, para que estes terminem bem ou menos mal, um médico, figura central no desenvolvimento da película que como todas abordava e recreava muitos outros “enredos” secundários, conversou longamente com o rapaz e, a passos, disse-lhe que nós, humanos, temos um véu que nos ajuda a separar da morte. Há, no entanto, alturas nas nossas vidas que o véu que nos separa da morte é retirado e quando isso acontece - fruto de traumas profundos de vária ordem como por exemplo a morte de alguém que nos é querido – nós ficamos tão junto dela que entramos em desespero e que alguns de nós até querem passar para o seu lado cometendo suicídio. Era o caso do rapaz prota-gonista deste filme.
Com o tempo, e por vezes com a ajuda de médicos e químicos, nós vamos construindo outra vez aquele véu e a vida começa a fazer novamente sentido.
Gostei da lição por esta ser tão real e pedagógica.
Quantos de nós já não tivemos momentos de aproximação, ombro a ombro, com a morte seja porque tivemos um acidente, uma doença grave ou o desaparecimento de um ente querido? Todos nós, adultos, certamente tivemos. Só que por maior que seja a dor, o tempo vai tricotando outra vez aquele véu que nos vai, paulatinamente, dando sentido à vida.
De outra forma a vida seria um inferno porque não passaria de um tormento permanente.
Haja véus para nos ajudarem.


Até um dia destes.