EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Mintam-nos, senhores 

Durante uma legislatura,  completa ou não, é voz corrente condenar-se os Primeiro Ministros, principalmente esses que representam os governos no seu todo, de mentirem com quantos dentes têm na boca. Ouve-se muitas vezes dizer que esses mentirosos não verão mais o meu voto, etc, etc. No entanto, lá no fundo, eu acho, e não sou só eu a achar, que os grandes culpados dos líderes partidários com possibilidades de chegarem a Primeiro Ministro mentirem somo nós e só nós.
Se um candidato a Primeiro Ministro, com hipóteses de o vir a ser, dissesse a verdade nós votaríamos na sua força partidária? A maioria de nós não. Não votávamos.
Se analisarmos a personalidade de Passos Coelho, ele é, não tenho dúvidas, um homem que gosta de dizer a verdade. Julgo que lhe está no sangue. Mas, teria ganho as eleições sem mentir em assuntos estruturantes da governação? Não me parece.
Agora que governou mais de três anos é mais fácil ser verdadeiro e deixar o povo julgar. Se achar que ele merece, reelege-o. Se não achar perderá mas a história julgá-lo-á e não lhe dará má nota dadas as circunstâncias.
António Costa: Acompanho com interesse este homem que também gosta da verdade. É, no entanto, constrangedor vê-lo a não querer mentir mas ao mesmo tempo não poder dizer a verdade.
Numa entrevista recente, à pergunta se iria devolver por inteiro os cortes feitos aos funcionários públicos respondeu que sim. Mas, logo a seguir, entre dentes, disse que tinha um compromisso para uma década e que só se comprometia nesse cenário. Mas que diferença faz, meu Deus. Da mesma forma reagiu acerca do corte suplementar de IRS e aos cortes nas pensões.
O facto de fazer promessas num horizonte de dez anos com palavras subtis defendê-lo-á no futuro, se vier a ser Primeiro Ministro. Mas não é isso que o povão menos atento espera. Este, espera  ‘leite e mel’.
Ainda bem que o próximo Primeiro Ministro será Passos Coelho ou António Costa e não um megalómano qualquer.
Por muito que nos custe garantem-nos o essencial: realismo e bom  senso.
Até um dia termos uma crise de ‘pau e pedra’...
 
Até um dia destes.