Ernestina da Conceição é a habitante mais antiga da freguesia de Águas Santas

97 anos de vida e de trabalho

É a habitante com mais idade da freguesia de Águas Santas. Celebrou no dia 22 de Agosto, 97 anos de vida. De estatura pequena, Ernestina da Conceição Soares, a ‘Restina' como todos a tratam, reuniu  à mesa os familiares que lhe cantaram os parabéns. De lenço na cabeça, como todos sempre a conheceram, e sentada à porta da casa da filha Conceição, com quem vive há cerca de 14 anos, a D. Restina relatou um pouco da sua vida, uma vida de trabalho, como faz questão de referir.
A conversa contou com a ajuda do bisneto Tiago, a quem a idosa contou algumas das passagens da sua vida. “Agora, não faço nada mas já trabalhei muito”, explica. A passagem dos anos trouxe-lhe alguns problemas de visão e audição.
É a menina lá de casa. Começou a servir com 12 anos. Todos os dias ia a pé, até Braga, buscar o correio que depois entregava à ‘Idalina do Correio’. Trabalhava diariamente no campo e ao Domingo, dedicava-se à limpeza da casa. Nasceu no lugar de Portuzelo, em Águas Santas, e a mãe, tal como ela, era jornaleira. Tinha mais duas irmãs: Maria e Virgínia.
‘A vida era difícil, não era como agora’, explica. Trabalhou em várias casas da freguesia. Por ocasião das colheitas, à noite reuniam-se nas desfolhadas. O marido, Adolfo Fernandes, era natural da freguesia. Do casamento resultaram sete filhos, tendo já falecido uma filha. Ficou viúva com 61 anos. Hoje, a família é grande. Aos filhos, juntam-se 19 netos e 16 bisnetos. Dentro em breve, será também trisavó.
“Eu e o meu homem trabalhamos muito”, revela. O marido trabalhava no monte e diariamente ia ao seu encontro com o almoço. Ao Do-mingo, iam para o monte rachar ‘trepos’. Os filhos iam com eles para transportar os cestos com as canhotas até casa. Gostava muito de dançar e os trabalhos da lavoura eram acompanhados pelos cantares. “Íamos desfolhar para os vizinhos até à meia-noite. Depois, íamos para casa dormir”, conta.
“No Natal, fazíamos formigos e rabanadas. Os formigos eram feitos numa panela de barro. A família reunia-se à mesa na ceia de Natal. Era um tempo de fome mas um tempo muito alegre.
Depois da ceia, estávamos a pé até à meia-noite. Era um tempo muito alegre”, recorda, com saudade, a D. Restina. “Trabalhei muito. Agora quero trabalhar e não posso”, explica.
“O Miguel era muito malandro”, brinca a D. Restina, na presença do neto Miguel, que está emigrado em França e veio visitar a avó na companhia do filho, Luka.
Frequentou durante cerca de dois anos as actividades da Associação ‘Em Diálogo’. Hoje, as dificuldades de visão e audição levam-na a ficar mais por casa mas recorda com saudade o tempo lá passado. Uma vida verdadeiramente preenchida…