EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Quando somos a notícia 

A profissão Jornalista é certamente uma das mais ingratas de todas, quando o jornalismo atinge o seu expoente máximo no que respeita à agressividade de conteúdos com vista à rentabilização das empresas que suportam os meios de comunicação social. A partir daí, no mundo em que vivemos, as vendas e audiências disparam que é o que interessa. Infelizmente.
Nos meios de comunicação social nacionais principalmente nos jornais, revistas ou televisões esse stress ainda é muito mais visível. Qual de nós já não reparou que as capas ou aberturas de muitos desses meios são compostas por escândalos que objectivamente não são mais do que fofoquices atirando para as calendas as notícias que o são de facto.
No que diz respeito às televisões a TVI tem fama, e muitas das vezes proveito, de ser a mais agressiva nessas matérias. A sub-directora de informação desse canal teve uma das mais horríveis notícias que se pode algum dia ter: a morte de um filho. Ainda por cima em condições dramáticas.
Tive pena, muita pena, da Judite de Sousa quando ouvi aquela notícia editada em directo no seu próprio canal e lida com voz embargada pelo seu colega José Alberto Carvalho.
Nas semanas seguintes ia vendo nos escaparates as capas que sem o mínimo de pudor os meios de comunicação, colegas, principalmente jornais e revistas, deram à mais pequena informação acerca do sucedido pondo sempre a pobre mãe, toda de preto, ora na rua, ora a sair do carro, ora onde quer que um qualquer editor, stressado com as vendas e audiências, lhe apetecesse.
As marcas de sofrimento bem estampadas no rosto da Judite de Sousa passaram a ser um chão a dar uvas durante a época estival.
Não sei francamente o que é que a mulher e mãe Judite de Sousa terá a dizer à Judite de Sousa jornalista mas na primeira vez que a vi a editar o Jornal da TVI li-lhe nos olhos, humedecidos, que têm falado muito uma com a outra. Há momentos de ruptura nas nossas vidas pessoais que muito dificilmente são compatíveis com a vida profissional então exercida. Será que a ‘nova’ Judite dentro de alguns meses - para já ainda existe compaixão, quem sabe útil... -  vai aguentar?
A frieza dos ‘mercados’ deixam-me a antever que não. Espero enganar-me.


Até um dia destes.