EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Esperança

Como a esperança é a última coisa a morrer vamos esperando.
Quando oiço e vejo António Costa e Rui Rio, juntos, a dizerem que estão dispostos a fazer um acordo a dez anos para Portugal e sendo certo que esse acordo reflectiria as traves mestras do Portugal do futuro, fico orgulhoso e esperançado.
Mas, como já vou andando por cá há uns anitos e me lembro da esperança que depositei na dupla Sócrates/Cavaco, um com maioria absoluta no Parlamento e o outro na Presidência da República – o futuro deu no que deu... - o melhor é manter pé e meio atrás.
Dando de barato que António Costa ganha folgado as eleições primárias no Partido Socialista, não vejo como fácil Rui Rio tomar os comandos do PSD em condições de fazer o tal acordo.
Se Costa ganhar as eleições legislativas com maioria absoluta Passos demite-se, mas será que Rio está disposto a liderar um PSD em cacos para além de ter também um PP a imputar todas as responsabilidades no PSD pelo desaire, mais que não seja através dos argumentos: reformados e carga fiscal? E, mesmo que o esteja, Costa terá poder dentro do PS para acalmar os caciques que já se pavoneiam nas suas costas à espera de um lugar de Deputado ou, pasme-se, de Secretário de Estado? Não tenho grandes dúvidas que António Costa fica intimamente irritado com essa cacicada, mas precisa deles como de pão para a boca para ganhar as directas e para, no futuro, ter o partido o mais unido possível. Ele sabe como ninguém que alguns desses ainda há poucos meses cantavam ó sanas ao Tó Zé e lhe chamavam traidor, mas quando viram ‘as modas’ a mudar  de trilho colaram-se imediatamente. E, outros não o fizeram porque devem os lugares de destaque no Partido a António José Seguro.
As únicas miragens que vejo para o acordo entre esses dois protagonistas é Costa ganhar as legislativas com maioria relativa, Passos demitir-se da liderança do PSD, Rio ganhar o partido e aceitar uma coligação, bloco central, com o lugar de vice-primeiro ministro de Costa ou Passos Coelho aceitar dentro de meses um lugar europeu e deixar o partido à mercê de Rui Rio.
Assim, sim. Mas como sou muito céptico acerca de milagres...

Até um dia destes.