Viagem pelo universo da filigrana

Mãos de ouro
num registo concelhio

Certificar a filigrana povoense, ou mesmo portuguesa, e criar uma escola que ensine a arte na Póvoa de Lanhoso foram algumas das ideias deixadas pela ourives Inês Barbosa.
Iniciou a sua caminhada na ourivesaria, em especial na filigrana, com apenas treze anos, seguindo as pisadas do avô, pai e tios.
O trabalho do ouro sempre a fascinou. Aos 13 anos, surgiu a oportunidade de colocar a mão na massa, neste caso no ouro, em especial nos finos fios que dão corpo às belas peças de filigrana. A sua ajuda foi reclamada pelo seu pai que, na ocasião a impeliu a ajudá-lo com um relicário.
“Eu fui e gostei muito. Ele gostou do meu trabalho e fui ficando na arte até aos dias de hoje”, confidencia Inês Barbosa, nascida em Sobradelo da Goma e com estabelecimento comercial e residência na vila da Póvoa de Lanhoso.
“Primeiro, e principalmente, é preciso gostar. Em qualquer área é preciso gostar do que se faz mas nesta mais ainda pois é muito minuciosa. Isto é uma arte. Ainda há dias, alguém disse que trabalhar a filigrana é uma técnica. É uma técnica mas para trabalharmos essa técnica temos que ter a arte para a saber trabalhar. Não basta saber encher um coração de filigrana”, explica a artesã, dando conta das competências necessária para trabalhar o ouro. Os projectos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, nomeadamente o projecto ‘Por um Fio de Ouro’, trouxeram uma maior “leveza” às peças de filigrana. Novos desenhos e aplicação de novos materiais, como o couro, a cortiça, deram leveza às peças.
Mas, e como afirma Inês Barbosa, hoje, a procura recai, principalmente,  nas peças de filigrana tradicional.
A imagem da actriz Sharon Stone com um coração de filigrana correu mundo e despertou a curiosidade de mui-tas pessoas. A procura pelos corações de filigrana também foi muito sentida na Póvoa de Lanhoso. Actualmente, Inês Barbosa não tem tempo livre para se dedicar à criação de novas peças.
“Temos trabalhado unicamente no tradicional. É o que os clientes estão hoje à procura. Desde que ela a apareceu, desde que a nossa comunicação social muito bem divulgou, não se tem conseguido satisfazer os pedidos de todos os clientes. Penso que todos os colegas desta área, que trabalham a filigrana sentem o mesmo. Há pedidos que chegam do estrangeiro”, da conta Inês Barbosa. O coração de filigrana é peça mais procurada quer seja por nacionais ou estrangeiros. Os vários projectos e iniciativas de divulgação que se registaram nos últimos 12 anos tem permitido mudar menta-lidades. Hoje, os jovens pro-curam peças em filigrana.
Há mercado de trabalhos para os jovens? A esta pergunta, Inês Barbosa responde que sim mas aponta a necessidade de se criar uma escola ou curso dedicado à arte.
“Nós, quando precisamos de um colaborador, muitas vezes nós precisamos de uma pessoa para começar logo a trabalhar. Se nós fossemos buscar uma pessoa a uma escola ela vinha e já estava pronta a começar a trabalhar, a produzir. Quando nós vamos buscar uma pessoa que não percebe nada andamos meses e meses a ensinar. Aquilo que nós queremos que seja no acto, não temos hipóteses por-que somos nós que a temos que formar essa pessoa”, explica Inês Barbosa.
“Deveria existir a certificação, uma marca da filigrana da Póvoa de Lanhoso ou que fosse da filigrana de Portugal. É preciso certificar a filigrana portuguesa porque   é a melhor filigrana do mundo”, revela Inês Barbosa, acreditando que a filigrana tem futuro, desde que haja pessoas para a trabalhar.
A divulgação da filigrana e do trabalho associado a cada peça é um trabalho que deve prosseguir.