Manuel Baptista, presidente da Câmara Municipal

Fusão dos concelhos 
não avançou por causa da dívida

Manuel Baptista, presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, acredita que a agregação de concelhos será uma realidade não muito distante. Em entrevista ao Maria da Fonte, dá conta de esforços para salvar o Instituto Superior de Saúde do Alto Ave.

P - Entrou no seu último mandato autárquico. Com que espírito?
R - Da mesma forma com que comecei: para tentar resolver os problemas das pessoas.

P - Neste seu terceiro mandato quais são os problemas mais difíceis que tem para resolver?
R - O emprego e a acção social.

P - O concelho da Póvoa de Lanhoso conseguiu recuperar do encerramento de algumas empresas, nomeadamente  uma grande multinacional de cablagens de automóveis?
R - Não. Com a ‘Lear’ tínhamos dois mil postos de trabalho. O seu fecho veio agravar muito a economia da Póvoa de Lanhoso.

P - Esse impacto ainda não foi diluído?
R - Não. Em parte, foi superado pela emigração.  Neste momento tenho funcioná-rios da câmara a pedir licenças sem vencimento para emigrar. 

P - Póvoa de Lanhoso está próximo de Braga e Guimarães. Isso não chega para fixar a população?
R - Neste momento temos um tecido industrial muito forte na área têxtil. Temos quase dois mil postos de trabalho em micro empresas.

P - Houve alguma recuperação neste sector?
R - Tem havido, mas não muita. Começa a haver dificuldade em encontrar mão-de-obra. O que começa a haver hoje é disponibilidade de mão-de-obra qualificada, licenciada.

P - A generalidade dos autarcas apostam na criação de ‘vias verdes’ para a captação de investimentos. Como é que a Póvoa de Lanhoso se posiciona neste quadro?
R - Com todo o respeito pelos meus colegas, costumo dizer que os novos autarcas têm a força toda, o sangue na guelra. Estão a criar expectativas muito altas. Hoje, atrair investimento não é só aparecer nos jornais. Famalicão e Guimarães que são concelhos muito industriais, Braga é mais comercial. Estamos a aumentar as exportações, não pelo crescimento dos postos de trabalho,  sim pelo conhecimento e capacidade de aumentar o valor acrescentado do produto. O aumento do emprego não é aquele que se esperaria. Atrair mão-de-obra para a têxtil e o calçado com o salário mínimo nacional não é muito apelativo.

P - Não aposta muito na reindustrialização de que se fala?
R - Eu aposto, mas isso não depende só do poder político. Nós queremos uma auto-estrada entre o investidor e a câmara, mas só isso não chega. Estive a negociar com um empresário francês a vinda de uma indústria têxtil para a Póvoa de Lanhoso e ele optou por ficar na Maia. Eu tenho terrenos a um euro o metro quadrado e ele está a pagar a três euros. O investimento tem a ver também com as acessibilidades. Só os incentivos das câmaras não chegam. Os empresários fa-zem contas e querem tudo muito perto e muito rápido.

P - O concelho da Póvoa de Lanhoso tem beneficiado com a existência de uma unidade de ensino superior, o Instituto Superior de Saúde do Alto Ave (ISAVE)?
R - O ISAVE é um problema que nós temos hoje. É como a ‘Lear’: começou em grande e vai terminar em      pequeno. A ‘Lear’ já fechou, o ISAVE já teve dois mil alunos e hoje tem 180, dos quais 100 em fim de curso. Penso que houve oito inscrições o ano passado.

P - O processo jurídico  que envolveu o ISAVE pode ser fatal?
R - A câmara da Póvoa de Lanhoso está a ser parceira de um investidor que quer comprar o alvará do ISAVE. Estou a tentar chegar a um acordo com os credores para dar viabilidade e não deixar morrer o ISAVE. A câmara não vai ser sócia, quer ser parceira na imagem, na forma de se afirmar novamente o ISAVE.

P - Quando é que esse processo pode estar concluído?
R - Negociei recentemente com um dos credores para tentar chegar a acordo com        a empresa interessada no ISAVE. Nas próximas semanas podemos ter notícias importantes. Se não for uma boa notícia, é a sentença de morte do ISAVE.

P- É importante ter um ISAVE com a dimensão que este já teve?
R - Nunca chegará a ter a dimensão que chegou a ter, mas é importante o ISAVE para a Póvoa de Lanhoso. Se tiver 200 alunos já fico muito contente. Já não quero dois mil, que é impossível.

P - Para além das questões judiciais, há também que considerar a questão financeira, já que o ISAVE é uma instituição privada.
R - O projecto que está em cima da mesa é interessante. A câmara municipal está empenhadíssima em encontrar uma solução para o  ISAVE. Espero que nestas duas se- manas os credores cheguem a acordo.
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