EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Ultraje

Nas minhas viagens pelas estradas secundárias do nosso concelho e do resto do Minho, há tempo para ir pensando com os meus botões e dou por mim muitas vezes revoltado pela insensatez de quem gere a política agrícola e comercial deste país que é o nosso. Não, não estou a falar só de políticos.
Como é possível ver milhares e milhares de pés de citrinos – laranjeiras, limoeiros, tangerineiras, etc – a vergar de fruta ecológica do melhor que há e saber que dentro de semanas ou meses irá a grande parte apodrecer no chão.
Na minha família vende-se todos os anos muitas toneladas desses citrinos, nas árvores, por cerca de cem euros. 100 euros! Para não irem para o estrume.
Pergunto: se há cooperativas que compram e conservam, em boas condições ambientais, kiwis para serem aplicados na indústria de pastelaria e de sumos, por que não se criam cooperativas para armazenarem citrinos para as mesmas indústrias?
Quem de nós já não pagou dois ou três euros para beber um sumo de laranja natural onde lhe meteram quatro ou cinco pedras de gelo, para encher..., e sumo de duas laranjas chocas mas que, dizem, são do Algarve ou de Espanha?
Com é que isto é possível? Não haverá um empreendedor que se lembre de armazenar esta fruta e transformá-la em ouro?
Em Lisboa há uma casa especializada em limonadas. Não me lembro do nome mas foi referida por o Miguel Esteves Cardoso no Público. Descreveu, como só ele sabe descrever, o prazer de beber uma limonada especialmente num dia quente. Há lá melhor bebida no mundo?
Francamente. Não quero estar para aqui sempre a zurzir nos portugueses. Mas, será que os alemães, ingleses ou holandeses, por exemplo, deixavam esta galinha dos ovos de ouro ir para a terra?
Em poucas décadas passamos de comermos as laranjas do chão, as do ar eram para vender, para este autentico ultraje ao bom senso.
E a culpa é sempre dos outros. Quem sabe dos que nos emprestam dinheiro para podermos beber o sumo choco.

Até um dia destes.