EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Cem graus

Há uns tempos atrás estavam cinquenta graus negativos em alguns Estados nos Estados Unidos da América e cinquenta graus positivos em alguns Estados no Brasil.
No mesmo Continente, embora como sabemos em hemisférios diferentes, estavam cem graus de diferença entre umas regiões e as outras.
Sei que, no tempo que vivemos, onde a comunicação chega a todo o planeta em tempo real, há muitas coisas que já se passaram há séculos ou milénios mas nunca o soubemos ou saberemos porque não havia registos e muito menos  comunicação como a que temos agora. Mesmo assim, é espantoso, senão aterrador, constatarmos aqueles números.
Mesmo sendo certo que a Natureza – essa maravilha e essa besta – faz o que quer quando e como quer, a mão humana tem uma responsabilidade  que não é de somenos na intensidade e frequência de certos fenómenos climatéricos.
A poluição que o desenvolvimento provoca está a afectar de forma decisiva as formas de vida do planeta. O que mais me preocupa e nos deveria provocar a todos é que o mundo ocidental esse anão está a tomar medidas para que a poluição, principalmente a emissão de gases prejudiciais à atmosfera, seja reduzida. O problema é que os países em desenvolvimento, os BRIC – Brasil, Rússia, Índia, China –, com os seus cerca de três mil e quinhentos milhões de seres humanos, onde a grande maioria vivia há poucos anos em pobreza extrema e querem viver legitimamente como nós,  estão-se nas tintas para o ambiente e nós aqui, no bem-bom ocidental, não temos legitimidade para dizer nada porque também já o fizemos.
Resultado? Não sei. Sei, isso sim, que a coisa vai no mau caminho.
No filme ‘Os Deuses devem estar loucos’ caiu uma garrafa na cabeça  de um indígena. E nós, será que vamos a tempo de atirar a garrafa para fora do planeta?
 

Até um dia destes.