EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Descartáveis

Em quase todos os ramos de comércio, mas em particular nas farmácias, têm-se verificado nos últimos anos diferenças incríveis quer ao nível do espaço físico e tecnológico, quer no factor humano.
Hoje as farmácias estão repletas  de jovens elegantes, com aptidões técnicas e formação em atendimento público, que estão a anos luz do senhor simpático, muitas das vezes de faces rosadas, que nos atendia há vinte ou trinta anos a trás.
Isso é bom. Só que, há sempre um só que, ao conversar com um amigo meu, há muitos anos funcionário de uma grande farmácia, das tais cheias de muitas meninas e alguns meninos bonitos e competentes, dizia-me ele que os proprietários, neste caso proprietária, tem uma inveja incrível do protagonismo dos antigos funcionários junto dos clientes. Perguntam no meio de cinco ou seis jovens vestidos de branco e com doutor na lapela se o senhor fulano, dos tais de faces rosadas, está.
Vai daí, são mal tratados , não lhes é permitido nada do género de saírem para um funeral de um amigo, as saídas legais são cronometradas ao minuto e por aí fora. Segundo ele, isto está-se  a passar em muitos sítios. Não é caso isolado.
Os proprietários têm gente bonita - com estágios subsidiados ou então a ganhar dez reis de mel coado - e querem-se ver livres dos veteranos que há trinta ou quarenta anos atendem as maleitas dos Maneis e das Marias deste mundo.
Aqui está um exemplo, no meio de milhares de outros, de como o mundo, que nós criamos, está.
E se olharmos por nós abaixo, todos somos, na circunstância, donos de farmácia.
Nunca nos devemos esquecer que também somos todos potenciais empregados de farmácia.
Lembremo-nos da história do avô, neto e tigela de madeira.

Até um dia destes.