EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Marechais

Quando Fernando Pessoa apoiou a revolta militar liderada pelo marechal Gomes da Costa  iniciada em Braga em 1926, Pessoa estava cansado de tanta instabilidade política e desordem social – factos lembrados na edição do Maria da Fonte de 6/9/2013 num texto de Costa Guimarães.
Lembro esta bonita, embora dramática, parte da nossa história recente porque acho que até Fernando Pessoa, um vanguardista, se encheu da balbúrdia então existente em Portugal. Qual de nós não se enche?
Tenho para mim que os dois maiores inimigos das democracias e das liberdades são a fome e as balbúrdias prolongadas.
Quando um país entra numa senda prolongada do sem rei nem roque – a falta de autoridade dos docentes e funcionários nas escolas são um exemplo, estruturante, disso -, onde as pessoas não sabem minimamente o que os espera amanhã, fartam-se e refugiam-se em regimes , ou pretensos representantes deles, trocando muitas das liberdades que então defenderam por paz e sossego. Não estaremos a chegar a esse ponto? Francamente gostaria de me enganar mas acho que estamos.
Em França, por exemplo, há grande preocupação com os resultados das próximas eleições europeias. Uns espantam-se, outros nem por isso, com as sondagens a darem a Frente Nacional da senhora Marine Le Pen com grandes índices de popularidade.  
A crise europeia – dizem alguns, incluindo o nosso Durão Barroso, que a crise do euro está a passar mas, digo eu, a crise europeia é muito mais funda do que a sua moeda que como sabemos nem é a moeda de todos os países -, para falar só de cá, política, económica e social está a pôr as populações mais silenciosas, na sua grande maioria. Mas é um silêncio ensurdecedor!
A história diz-nos que quando é preciso os marechais aparecem mesmo que seja para estarem no poder meses ou dias, como aconteceu com o Marechal Gomes da Costa, mas que atrás de si nada fica como era.
Estamo-nos a pôr a jeito.
Até um dia destes.