EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Dançar à roda

O Partido Socialista Português, os seus líderes de momento e no fundo toda a esquerda democrática em Portugal, tinha uma esperança profunda que as eleições francesas funcionassem como catalisador para aquela esquerda em toda a Europa.
O ‘execrável’ Sarkozy levaria um pontapé no traseiro e entraria o ‘meloso salvador’ François Hollande.
Chegariam as manhãs que cantam.
O problema é que quando se entra na dança da roda, e aqui refiro-me a todas as rodas sejam elas de esquerda ou de direita, a ‘dança’ traz consigo muitas mais dificuldades do que parece sentados na confortável esplanada das oposições.
Os estudiosos comentadores da política europeia referiam-se muitas das vezes ao eixo ‘Merkozy’ como o eixo dominante da União  Europeia com especial  destaque para a parte ‘Merk’ que representa como sabemos a Alemanha.
Os mesmos dizem agora que o hipotético eixo ‘Merkollande’ deu origem a eixo nenhum. Ou seja François Hollande come a sopinha toda da senhora Merkell e de bico calado.
Diz quem sabe e quem lá vive que a grande França está a viver uma crise gigantesca que não se consegue vislumbrar de Portugal. Quem diria. Aqui no nosso ‘ovo’ - o meu avô dizia, ilustrando, quando eu era criança que Portugal era um ovo; Espanha uma peneira e França uma eira. As proporções estão longe mas para quem tinha seis anos dava para entender – os dirigentes do Partido Socialista esqueceram por completo o Sr. Hollande como sendo o salvador da pátria. Ele é nesta altura o Presidente francês mais impopular da História recente com cerca de vinte por cento de opiniões favoráveis.
Não há como entrar na dança da roda para lhe experimentar as dificuldades.
Alguém da primeira linha do governo disse-me há tempos: às vezes apetece entregar o barco. Venham para aqui! O problema lembrei-lhe eu e ele concordou é que os que lá estão, eles, fizeram o mesmo para irem para lá.
Viva a dança da roda.
Até um dia que poderá deixar de haver roda se não houver juízo.

Este é o primeiro texto do ano 129 do nosso Maria da Fonte.
Uma palavra de agradecimento a todos que de uma forma directa ou indirecta têm mantido vivo este título que é dos mais antigos do país.
Esperamos que algumas alterações gráficas e enfoques de conteúdos sejam do agrado dos nossos assinantes e leitores. 
Até um dia destes.