BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS - ENTREVISTA A António Lourenço

Vinte anos como comandante

Iniciou a sua caminhada nos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso em 1981. Entrou como Bombeiro de 3.ª e manteve-se até 1991. Decorria o ano de 1993 quando recebeu o convite do então presidente da direcção, Eng.º Albino Pinto da Silva, para assumir o comando do corpo activo. Já lá vão 20 anos, completos no passado mês de Julho.

Maria da Fonte – Que balanço traça destes 20 anos como comandante dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso?
António Lourenço – Têm sido 20 anos cheios de tudo. Cheios de momentos fantásticos e alguns momentos, poucos, dolorosos. Sobretudo, um prazer enorme de trabalhar com um conjunto de pessoas em que todos eles têm um elemento comum: a capacidade de dar em prol dos outros, servindo a instituição Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso, de forma a poderem contribuir para salvar pessoas e bens da nossa comunidade.

MF – Quais têm sido as preocupações ao longo dos anos?
AL – Têm sido variadas. Os próprios momentos e a própria evolução da sociedade fora dos bombeiros obriga a que os nossos objectivos sejam diferentes, conforme os tempos e mais do que diferentes, adequadas à própria realidade. Lembro-me que, quando entrei, tínhamos dois carros com água e havia uma falta enorme de equipamento, quer de combate quer de protecção individual. Toda a gente se lembra que nos actos oficiais íamos em camisa e que nem uma farda de gala os bombeiros tinham. Ao nível das instalações, apesar de terem sido inauguradas em 1987, na altura um excelente quartel, na verdade é que rapidamente ficaram, quer do ponto de vista da qualidade, quer do ponto de vista da dimensão dos espaços, ultrapassadas. Debatíamo-nos com muitas dificuldades. No Verão de 92 ardeu a melhor viatura que os bombeiros tinham, num incêndio florestal em Rendufinho. Para minha alegria, um dos primeiros actos do corpo activo foi a realização de um peditório para aquisição de uma nova viatura, que seria mais ou menos coincidente com a minha entrada como comandante. Depois, recordo-me de um momento, e marcante, nos bombeiros da Póvoa de Lanhoso, que foi a entrada das mulheres. Mais tarde, foi a ampliação do quartel, numa obra fantástica do Senhor Ferreira Martins, o obreiro desta obra. Poderia relatar muitos mais. Poderia falar mais recentemente da revolução que tem sido ao nível do equipamento de protecção individual, através de candidaturas a fundos comunitários, desde a aquisição no estrangeiro de outro tipo de equipamento. Hoje, estamos muito bem servidos a esse nível.

MF – A colaboração da população tem sido importante?
AL –  Os bombeiros, a nível do país são, provavelmente, a instituição mais querida dos portugueses. Não tenho dúvidas nenhumas que os Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso são, sem margens para dúvidas, a instituição mais querida a nível concelhio e há uma ligação muito forte, mais do que em algumas localidades, entre a população e os bombeiros. E vê-se isso de diversas formas. Vê-se isso na nossa festa, que é muito participada pelas pessoas e sempre que são solicitados a colaborar nalguma iniciativa, a população tem sido muito generosa e amiga dos bombeiros. Há aqui uma comunhão muito forte, mais do que na maior parte dos concelhos
Posso dizê-lo com a população e com outras instituições, sejam elas da sociedade civil ou de índole mais estatal. Nós, Bombeiros Voluntário da Póvoa de Lanhoso, temos um bom relacionamento com toda gente. Damo-nos bem com a instituição irmã, que é a Santa Casa da Misericórdia, com a Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, com as Juntas de Freguesia e com as variadíssimas instituições e empresas do concelho.

MF - Como é a relação entre comando e direcção. Os vossos anseios têm sido atendidos?

AL - Ao contrário daquilo que se passa em alguns corpos de bombeiros do distrito e do país, a verdade é que nós aqui na Póvoa de Lanhoso sempre vivemos um clima de paz, amizade e de uma comunhão de objectivos muito forte entre comando, bombeiros e entre a direcção. Apesar de termos responsabilidades diferentes, o comando e a direcção funcionam como uma só equipa.

MF - A emigração tem afectado o número de voluntários na corporação?
AL - Temos cerca de 84 bombeiros no activo, tendo alguns deles, cerca de dez, na inactividade, isto é, pelo período máximo de um ano. A Póvoa de Lanhoso está muito bem servida de voluntários. A capacidade que temos de renovação permite a substituição daqueles que, por diversas razões, possam sair dos bombeiros.
Os tempos que se vivem fizeram com que, nos últimos dois ou três anos, saíssem muitos bombeiros. É um problema com que nos te-mos debatido, com a saída de muita gente para o estrangeiro. Não baixamos os braços perante estas adversidades.
Temos conseguido fazer essa rotatividade sem beliscar a qualidade do serviço. Cada dia que passa, a população da Póvoa de Lanhoso e não só, estão mais garantidos na prestação do socorro quer ao nível da saúde quer ao nível do incêndio.

MF – Como está a decorrer esta época de incêndios?
AL - Nesta época, temos sempre duas semanas muito más. O ano passado isso não aconteceu. As duas semanas “más” aconteceram em Março/ Abril, em que houve uma série de incêndios muito grandes, fora de época. O ano passado não foi um ano muito complicado na época de Verão.
Este ano, estamos preparados para o que der e vier. Hoje, a aposta é no combate inicial.
Nós temos neste Verão, provavelmente e sem dados concretos, mais chamadas no período nocturno que no período diurno.
Há áreas que ardem todos os anos. Em S. João de Rei, na zona de Cancelos, é sempre ao fim-de-semana e já alertei para isto e a situação mantém-se.

MF – Consegue eleger o momento mais feliz e o mais triste nestes anos?
AL – Momentos felizes há muitos. Por vezes, os momentos mais felizes são por pequeníssimas coisas. A ampliação do quartel foi, talvez, um dos momentos mais marcantes.
Quanto aos menos felizes, vou falar num período. Tivemos o acidente do Bruno, que foi um momento terrível, por ser um acidente com uma viatura dos bombeiros e por ser um dos melhores bombeiros, uma pessoa dedicadíssima e, depois, a morte de três bombeiros no activo: o Luís Novais, o Chefe 40 (Manuel Gomes Machado) e o Artur Carlos Pereira da Silva. Aconteceram num curto período de tempo. Marcaram a minha passagem pelos bombeiros. Ainda hoje, continuo a recordá-los com muita saudade. Eram elementos que estavam no activo e que não os esqueceremos.