Padre Marco Gil

Espírito e paixão pela bola

A paixão pelo futebol e a participação na selecção de futsal de padres deu-lhe grande visibilidade. Em que é que isso se repercutiu no seu trabalho pastoral?
O desporto é uma componente importante para a nossa vida e bem-estar pessoal. Permite-nos igualmente trabalhar em equipa e ensina aos praticantes uma correta noção de “fair-play” e de responsabilidade. Ao mesmo tempo, a prática de desporto cria amizades sólidas entre colegas e rivais, unidos à volta de um mesmo fim. Todas estas vertentes ajudam a refrescar no quotidiano o nosso compromisso com um trabalho responsável, atento, numa humildade e dedicação que a prática desportiva tão bem sabe instruir. Contudo, esta visibilidade em nada mudou, penso que o facto de praticar desporto, apenas poderá transmitir e dar uma lufada de ar fresco, no que concerne a vida pessoal do sacerdote. O futebol é e será sempre um meio para o convívio. Foi sempre isso que procurei fazer, do futebol um meio para partilhar o tempo livre e o espirito da paixão pela bola..

Que balanço traça do trabalho desenvolvido ao longo dos nove anos?
Eu penso que esse balanço poderá ser feito por todos aqueles que comigo trabalharam... Havia metas, objectivos e claro, só eles sabem se foram alcançados ou não... O nosso trabalho como pároco não poderá ser visto como uma rentabilidade, mas sim como uma dedicação pelo Reino de Deus, onde não se pensa nos resultados mas em fazer algo pela comunidade, levando as pessoas a viverem e participarem do projecto de Deus.

Qual o momento, pela positiva e pela negativa, que guarda destes anos?
Positivo, foi toda a comunhão com o povo do Baixo concelho... Negativo... tudo aquilo que de menos bom foi conseguido.

Após 9 anos, deixa a Pó-voa, em particular o baixo-concelho. Que recordações guarda e que sentimentos o assolam neste momento?
No final destes 9 anos, parabéns às quatro paróquias que comigo trabalharam sempre com os valores da fé e do calor humano acima de todas as dificuldades. Naturalmente que situações existiram que foram complicadas, o que exigiu de todos força e dedicação parta trabalharmos em prol do mesmo. A todos os fiéis que comigo partilharam a mesma fé nas nossas assembleias, festas, reuniões e convívios, um sincero obrigado. Terão sempre um lugar muito particular na minha caminhada de pároco ao longo dos anos vindouros. 

Quer deixar uma última mensagem?
Uma mensagem? Todas as comunidades têm as suas especificidades, fazem parte do mesmo concelho, mas divergem nas suas características. O mais importante, é que cada comunidade trabalhe, se esforce, não para proveito de alguém, mas sim com o sentido de apostolado, de estar ao serviço de Deus e não de si próprio. É evidente, que muito ainda ficou por realizar, havia e haverá certamente novos horizontes, novas metas a serem alcançadas, mas importa ter consciência, que só juntos é que conseguem. Sempre ouvi dizer que a união faz a força, e é esse aspecto que eu deixo às comunidades, que pensem num todo, não no “Eu” de cada um de nós. Hoje ser pároco é difícil... As relações humanas convergem por vezes para a conflitualidade... Um mundo novo de egoísmo quer ofuscar a solidariedade. Muitos ainda não o dão como fim, mas as suas atitudes, a sua forma de pensar e de agir convergem para esta realidade pobre e sem valores.