ENTREVISTA ao Padre Marco Gil

“Aprendi com os mais jovens
a gerir a vitalidade e esperança”


Após nove anos, o padre Marco Gil coloca um ponto final no trabalho pastoral na Póvoa de Lanhoso. Para além do sacerdócio, o padre Marco Gil é conhecido pela prática de futsal. Os seus dotes futebolísticos são conhecidos além-fronteiras, sendo um elemento-chave da selecção nacional de futsal de padres. No dia 23 de Setembro, toma posse na paróquia de Arcozelo, em Barcelos. António Poças, recentemente ordenado, é o sacerdote que lhe sucede nas paróquias de Monsul, Gerás, S. João de Rei e Friande.

Passou nove anos na Póvoa de Lanhoso. Após a ordenação, a 20 de Junho de 2003, foi nomeado pároco de Monsul, Gerás, Ajude e Friande. Como foi esse contacto com as gentes da Póvoa de Lanhoso?
A nomeação para pároco logo após a ordenação é uma missão que exige capacidade de adaptação e compreensão entre duas partes: paróquia e pároco. Não se trata apenas de concretizar num determinado local o exercício da vocação que fomos chamados mas também, e muito importante, estarmos atentos às dinâmicas socioculturais presentes no quotidiano destas gentes. A partir desta abertura torna-se possível um enriquecimento e crescimento pessoal com base nas experiências dos fiéis que semanalmente testemunhava e com quem convivia. Naturalmente que as relações humanas nem sempre são as desejadas... Procura-se sempre o melhor entendimento, de forma que por vezes isso possa não acontecer. Procurei sempre colocar-me não como alguém estranho, mas sim, como mais um que vive e participa do mesmo espírito povoense.

Foi visível, nestes anos, o trabalho junto dos mais novos. Que ensinamentos transmitiu aos mais jovens?
Para tudo na vida existe um tempo certo e destinatários-chave, atendendo ao tempo e contexto. Nas nossas paróquias afigura-se-me que, actualmente, é muito importante apostar nas camadas mais jovens para compreendermos a razão pela qual vivemos os ritos, símbolos e sacramentos que testemunhamos na fé católica. Ao longo destes anos aprendi com os mais jovens a gerir a vitalidade e esperança próprias destas idades face aos ideais em que acreditamos enquanto cristãos. Contudo, a força mais vital nas comunidades parte essencialmente dos pais. São os pais que têm de compreender que os filhos poderão ser alguém com valor se para isso trabalharem... Não chega somente manda-los... É preciso acompanha-los, incentiva-los.

Em relação a esse problema, que acha dos pais versus crianças na catequese?

É muito difícil abordar este tipo de relação. Se por um lado temos pais que até aceitam, que compreendem o trabalho desenvolvido pelo pároco e catequistas, outros entendem que é uma perda de tempo, ou então que os filhos são sempre alguém que estão acima de toda a suspeita, quando precisamente são os que mais precisam de aprender a viver a comunhão eclesial. Por exemplo, os pais sacrificam-se mais depressa por levar os filhos ao futebol, ou as escolinhas, (pois pensam que todos são um Cristiano Ronaldo), do que propriamente em investir na educação dos seus filhos, nos valores enraizados no Evangelho... Não quero com isto dizer que esses pais estão errados, apenas gostava que compreendessem, que não se pode ter tudo, há opções a fazer. E por vezes os filhos faltam a catequese, sem qualquer tipo de justificação, mas são os primeiros a reivindicar que tem de passar ou fazer a primeira comunhão, ou o Crisma, quando nada sabem, nada lhes toca no coração, mas entendem que tem de fazer... Nós, párocos, por vezes somos os culpados, pois pactuamos com estas situações... A catequese é essencial na vida dos mais novos, os pais devem ser responsa-bilizados por isso, mas a assiduidade a catequese é vital, embora muitos pais não acreditam nem querem saber, mas para se sentarem na primeira fila, aí estão eles com pompa e circunstância... Numa paróquia, a catequese é essencial... deixa-me um amargo de boca, quando sinto, e senti, um desfasamento de alguns pais para com a responsabilidade no ensina-mento catequético aos seus filhos...