‘Vencer o Tempo nas 7 Cidades’


Os seniores como prioridade

A criação de espaços de lazer, com a colocação de bancos e mesas, a construção de passeios ao longo das estradas, a criação de sanitários públicos nas freguesias, a melhoria dos serviços de saúde, no tocante ao atendimento prestado, a falta de segurança e a melhoria da rede de transportes foram alguns dos aspectos mais focados pelos 63 seniores que integram o projecto “Vencer o Tempo nas 7 Cidades”, do qual faz parte o município da Póvoa de Lanhoso. A falta de atenção dos mais novos foi também apontada pelos inquiridos.
No decurso do “focus group”, os idosos deram a conhecer as suas opiniões, as suas necessidades e anseios. Espaços exteriores e interiores, transportes, habitação, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego, comunicação e informação e apoio comunitário e serviços de saúde foram as áreas abordadas ao longo do inquérito dirigido aos mais velhos. Identificar as rotinas dos mais velhos, as dificuldades que têm na concretização dessas mesmas rotinas e criar condições para superar os problemas identificados foram alguns dos objectivos, partilha dirigida aos utentes do Centro Social e Paroquial de Taíde, Centro de Convívio de Vilela, Centro de Convívio de S. João de Rei e Universidade Sénior.
A apresentação dos resultados do “focus group”, no âmbito do projecto “Vencer o Tempo nas 7 Cidades” de-correu na tarde do dia 14 de Setembro, no Theatro Club. Naquele momento, Ivone Dias Ferreira, presidente da associação “Vencer o Tempo nas 7 Cidades” destacou que “só ouvindo os mais velhos é que podemos perceber o que querem e como podem ser mais felizes na terra onde vivem”.
De entre as várias considerações, os mais velhos consideram, de forma geral, a sua área de residência como bonita e manifestam vontade de lá continuarem a viver. A grande maio-ria dos inquirido possui casa própria e, de forma geral, com as condições básicas suficientes.
“A segurança é um dos pontos mais acentuados em todos os discursos e de uma forma geral apontam na mesma direcção: a falta de segurança que, nos dias de hoje, todos sentem nas mais diversas áreas”, revelou Ivone Ferreira.
“De uma forma geral, sentem que os mais novos não lhes dão atenção, os olham com algum desinteresse e muitas vezes os tratam de uma forma desinteressada e, até, humilhante porque não lhes reconhecem já capacidades de afirmação”, revelou Ivone Ferreira.
Ser considerada, pela Organização Mundial de Saúde, como uma vila amiga dos idosos é um dos objectivos do município da Póvoa de Lanhoso que, depois de analisar as preocupações e recomendações deixadas pelos mais velhos, se prepara para colocar no terreno algumas acções que visam ir de encontro às aspirações dos idosos. Algumas das necessidades apontadas pelos mais velhos já tinham sido identificadas pela autarquia. A intervenção nos centros cívicos de algumas freguesias do concelho é uma das apostas da Câmara Municipal que vai de encontro aos anseios do público sénior. No tocante aos aspectos ligados à saúde e segurança, o município pretende fazer chegar às autoridades competentes os resultados do “focus group”. A realização de campanhas de sensibilização nas escolas e de prevenção rodoviária são algumas das medidas a implementar.

Jovens e idosos na escola
A abertura do ano escolar na Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso teve, este ano, um “sabor” diferente. Depois da ida dos mais jovens aos centros de convívio, foi a vez dos mais velhos visitarem a escola frequentada por alguns dos jovens que os acompanham no projecto “Vencer o Tempo nas 7 Cidades”. Na manhã de quarta-feira, dia 14 de Setembro, os mais velhos “invadiram” a Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso. Ali, os mais novos receberam de braços abertos os cerca de 70 seniores do concelho. “O sénior vai à escola” foi a iniciativa que permitiu reunir jovens e idosos, dando a oportunidade, a estes últimos, de conheceram o ambiente escolar dos tempos actuais. Depois da recepção, pelos alunos e professores, os mais velhos foram presenteados com o lanche, recheado de mimos e carinho. Saciado o apetite, os mais velhos deitaram mãos à obra e confeccionaram broa, dando a conhecer, aos mais jovens, uma das tarefas que marcava a sua juventude. Na resposta, os jovens presentearam os seniores com as danças tradicionais. Enquanto alguns dos presentes se entretinham com os jogos, Maria Amélia Fernandes, de 66 anos, utente do Centro Social e Paroquial de Taíde, construía trança com tecido e rafia.
Tinha 11 anos quando aprendeu a fazer tranças com rafia, que por sua vez eram usadas para confeccionar chapéus. “Fazia tranças com 9 metros. Aprendia na infância, com apenas 11 anos. Depois fui servir e mais tarde fui para França”, revela Amélia Fernandes, mostrando-se satisfeita com o convívio com os mais jovens. “Estou a gostar muito. Dá-me muito prazer estar aqui”, revelou , satisfeita, aquela utente do Centro Social de Taíde.
Com a “mão na massa”, Alzira Cruz, de 65 anos, do Centro de Convívio de Esperança, mostrava aos mais novos como se confeccionava a broa caseira. “Estou a gostar. É bonito”, revelou, mostrando-se satisfeita com a ideia dos jovens acompanharam os mais velhos, quer conversando, quer visitando-os para se inteirarem da sua situação e das suas necessidades.
Residente em Rendufinho, Rebeca Jager, de 16 anos, é uma das jovens que integra o projecto “Vencer o Tempo nas 7 Cidades”. A seu cargo tem, como carinhosamente chama, duas madrinhas: Fernanda e Lurdes, da Universidade Sénior.
“Está a correr bastante bem. Além das pessoas serem simpáticas, são bastante acolhedoras e tratam-nos muito bem”, revelou a jovem Rebeca.
Com 17 anos e residente em Santo Emilião, Cátia Sousa acompanha, no projecto, um casal de Esperança: Alberto e Graça. O contacto é mantido, na maior parte das vezes, por telemóvel. A par disso, as actividades organizadas pela autarquia possibilitam o encontro com o casal.
“Acho óptimo porque é uma maneira de acabar com a solidão. Mesmo cá na Póvoa, que parece um sitio muito urbanizado, há muita solidão. Costumo visitar o lar e para alguns daqueles idosos eu sou a única visita. Não acho que isso seja bom. Os idosos, não é por serem velhos ou por não fazerem aquilo que fazemos, que não são pessoas importantes. São eles que nos ensinam tudo aquilo que sabemos e se estamos aqui é por causa deles. Se não fossem eles, nenhum de nós existia e acho que não merecem passar pelo que passam”, revelou a jovem Cátia Sousa.

Balanço positivo
O projecto “Vencer o Tempo nas 7 Cidades” tenta melhorar as condições dos seniores. Queremos ser uma vila cada vez mais amiga dos idosos e por isso abraçamos este projecto, em que estão envolvidos sete cidades e vilas de Portugal, que têm este desafio de serem consideradas, pela Organização Mundial de Saúde, como cidades amigas dos idosos”, destacou Fátima Moreira, vereadora do Pelouro da Saúde e Acção Social da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso.
“A Póvoa de Lanhoso, com esta actividade, vai retomar laços criados no ano lectivo anterior dos jovens com os idosos. Os laços reatam-se aqui neste momento, com a abertura do ano lectivo. Hoje, esta escola fica com o ano lectivo marcado de uma forma diferente, em que os idosos tiveram a oportunidade de conhecer o contexto escolar dos seus jovens”, vincou Fátima Moreira.