Fátima moreira - presidente da regi-cooperativa do centro de criatividade

“Foi um ano que exigiu muito”

Depois de um ano que “exigiu muito trabalho” a toda a estrutura, a presidente da direcção da regi-cooperativa do Centro de Criatividade da Póvoa de Lanhoso (CCPL), Fátima Moreira, também vereadora da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, está satisfeita com o projecto supra-partidário que dirige, destaca já a grande visibilidade do projecto cultural na região local, nacional e até além fronteiras, e aponta a sustentabilidade financeira como o caminho a seguir.
Maria da Fonte (MF) - O ano de 2010 foi um ano de funcionamento pleno do Centro de Criatividade (CC) como regi-cooperativa. Qual o balanço?
Fátima Moreira (FM) - A regi-cooperativa trouxe-nos a possibilidade de ultrapassarmos alguns constrangimentos com que nos vínhamos debatendo, que tinham a ver, sobretudo, com a prestação de serviços para além do serviço prestado pela Câmara Municipal. Se, anteriormente, era quase necessário haver protocolos de colaboração da Câmara Municipal com essas instituições, o dinheiro tinha que entrar e havia algum dificuldade em termos de tesouraria, em termos de procedimentos. A regi-cooperativa trouxe-nos essa facilidade em termos de procedimentos.
A regi-cooperativa acaba por ser um grande desafio, porque é quase o ousar trabalhar a cultura de uma forma quase empresarial, é caminhar para a sustentabilidade económica dum projecto cultural. Esse é o grande desafio da gestão do Centro de Criatividade, nesta filosofia de regi-cooperativa.
Olhando para o ano 2010, foi um ano que não foi fácil, foi um ano difícil. Certamente que não foi só para o CC, foi um ano difícil, em termos globais. Para nós, teve a ver com a necessidade de afinarmos alguns procedimentos, que têm a ver com a própria dinâmica do Centro. Assumimos que, não foi um ano fácil. Foi um ano que exigiu muito. Exigiu muito à equipa da direcção, que é muito coesa.
A regi-cooperativa, ao nível de direcção, é um projecto que se assume supra-partidário, porque é liderado por dois partidos. Tem membros do PSD e PS e tem sido um bom exemplo de gestão. Por isso, é possível que pessoas com diferentes filosofias partidárias encarem projectos como o mesmo rumo, digamos assim.
Por outro lado, além desta equipa de direcção, a equipa que está à frente dos destinos do CC, não só a equipa técnica como a equipa artística, com a sua dedicação e empenho, foram fundamentais para ultrapassarmos muitos constrangimentos que nos foram surgindo. Conseguimos chegar ao final do ano com um resultado positivo.

MF - A fundação da regi-cooperativa veio agilizar o estabelecimento de parcerias com outros municípios. Como está esse processo?
FM - O ano 2010 foi assumido pela direcção e pela estrutura do CC como o ano de expansão. O Centro de Criatividade foi sempre assumido como um projecto cultural local e continua a sê-lo. O Centro assume já uma visibilidade muito grande na região. Eu diria até que em muitos pontos do país já em conhecido e tem levado o nome da Póvoa de Lanhoso além fronteiras e ao longo do país. Para isso, foi necessário darmos, no ano passado, esse passo de expansão. Foi criada uma rede informal de parcerias com 11 autarquias aqui à volta e foi apresentado um projecto à Capital Europeia da Cultura, num trabalho que nasceu aqui no CC e teve uma aceitação muito satisfatória desses onze municípios. Há, de facto, uma vontade desses 11 municípios em terem uma estratégia idêntica e identificaram-se com esta estratégia do CC.
Esta expansão permitiu vincularmos já um trabalho efectivo num dos municípios, que foi Montalegre, onde criamos o Centro de Estudos do Alto Barroso. Foi constituído o centro e o ano passado foi um ano pleno de trabalho em Montalegre, que resultou na grande apresentação da sexta-feira 13, em Agosto. Paralelamente, em Maio do ano passado, constituiu-se um grupo de trabalho formal em Cabeceiras de Basto, que ainda funciona e que é o Centro de Teatro de Cabeceiras de Basto, que também é um projecto local mas que está, de alguma forma, assessorado pelo CCPL.
Para além disso, temos parcerias várias. Temos, neste momento, a trabalhar connosco dois estagiários que vieram do ISMAE, temos essa parceria com a Escola Superior de Formação em Artes e também com o Chapitô. Várias companhias contactam- -nos para darmos apoio ao nível da confecção de figurinos e outro tipo de apoios. Temos sido muito solicitados, mesmo ao nível local. Ao nível das escolas, tem sido feito um trabalho de parceria muito válido. As escolas estão cada vez mais despertas para a necessidade de trabalharmos de forma articulada. Iniciamos, no ano passado, um projecto muito interessante ao nível do Agrupamento do Ave, em que o Centro de Criatividade está, neste momento, a promover aulas de hip-hop em todas as escolas daquele Agrupamento.

MF - A que se propõem neste ano de 2011?
FM - O que se propõe é fazer o mesmo, pelo menos, com menos dinheiro. O que aconteceu relativamente a 2010 é que o CC, à semelhança doutras instituições que têm sido apoiadas pela Câmara Municipal, sofreu uma redução de 15% nas verbas transferidas. Por isso, esse já é um constrangimento. Mas, nós aqui no Centro de Criatividade temos quase a ousadia, a audácia, de caminhar para a sustentabilidade desta utopia e de sonhar com a sustentabilidade desta utopia que é o Centro de Criatividade.
A cultura custa dinheiro mas a cultura, quando nos deparamos com anos difíceis e de crise, é quase sempre a área onde as apostas são menores e onde é mais fácil cortar as verbas.
Mas, nós, a equipa que aqui está, acreditamos que, com determinação, com vontade, apesar de todo este constrangimento, vamos ter um ano melhor que o de 2010.
Temos em mente alguns projectos e não vamos deixar de concorrer a candidaturas que nos permitam encontrar outras saídas. Aliás, já o fizemos o ano passado e vamos tenta-lo novamente. No ano passado não tivemos sucesso em muitas candidaturas que fizemos mas este ano vamos voltar a tentar.
A direcção está empenhada. O ano de 2010 foi um ano de aprendizagem ao nível dos comportamentos e das rotinas do Centro de Criatividade. Este ano, estas aprendizagens já estão incutidas e acredito que, apesar de termos um orçamento mais reduzido, os resultados vão ser ainda melhores que no ano anterior. (...)