Cem anos de República (24)

Nem os heróis salvam
minhotos da descrença

De Braga, a crise alastra-se ao interior do Minho e com ela a impopularidade dos governos, a uma média de escassos meses de duração cada um, enquanto o povo passava fome e era castigado com novos impostos e alta de preços.
Veja-se só que Viana do Castelo vendia um cento de sardinhas a 120 reis e eram compradas em Braga a 1200 reis. Os intermediários engordavam com esta crise e havia comerciantes de Braga que retinham o peixe recebido de Viana num armazém junto à estação dos Caminhos de Ferro para depois o venderem a preço de ouro.

Abastecimento bloqueado

Mas pior estava para vir, com a greve dos lavradores, caseiros e jornaleiros (da lavoura) ao abastecimento da cidade de Braga porque a Câmara inventou um imposto sobre os produtos da terra entrados nas “barreiras” da cidade. Eram as portagens de há cem anos!
As lutas dos operários sobem de tome e adquirem novas formas: num ápice, surgem notícias de atentados bombistas – “enorme estampido de duas bombas de dinamite que a malvadez arremessou contra dois estabelecimentos da indústria metalúrgica onde os operários se encontram, em greve”.
Dois patrões atribuem os atentados ao sindicato. Estava aberto o caminho para o precipício mortal da I República, três anos depois, e nem as visitas dos heróis Gago Coutinho e Sacadura Cabral — no dia 7 de Dezembro de 1922 — serenaram a vontade de mudança.
Foi um dia grande para Braga, conforme relatam os jornais da época, com o povo entusiasmado diante dos dois gigantes que “nesta hora de descrença tanto solavancaram a alma nacional”.
Em Braga correram as lágrimas, rezou-se pela Pátria e os minhotos vindos de todos os lados, mostraram “descender dos velhos portugueses de 1500, atirando-se de alma e coração para um uníssono supremo de hossanas, homenageando os heróis”...