EDITORIAL

Armindo Veloso




Absurdos e Bom Natal


Um cidadão britânico foi condenado a prisão perpétua por terem sido provados em julgamento os crimes de homicídio e violação. Já detido numa prisão para homens, naturalmente, alegou ser transsexual – constou-se depois que tinha mudado de sexo já depois de ter cometido os crimes. Estrategicamente?... — e que pretendia ser transferido para a prisão das mulheres. O ministro da Justiça britânica não atendeu o pedido. Num posterior recurso para o tribunal, um juiz de uma instância superior deu-lhe razão e decretou que o prisioneiro fosse transferido para a prisão de mulheres alegando que era por uma questão de direitos humanos. Ah, no decorrer da argumentação destaca-se também a referência ao facto de o prisioneiro já ter os seios em desenvolvimento e que já tinha retirado os pêlos próprios de um ser humano masculino.
Mas, que raio de mundo este!?
Não me interessa aqui desenvolver mais este tema na sua parte indescritivelmente ridícula. Quero, isso sim, destacar o quão contraditório é o ser humano.
Onde estão os direitos humanos para as milhares de crianças, e não só, que morrem de fome todos os dias por esse mundo fora perante a impavidez e a serenidade de outros que chafurdam na abundância chocante? Onde estão os direitos humanos para os milhares de meninas que são assassinadas à nascença na China e na Índia e para inocentes escravizados com trabalho infantil?
Onde estão os direitos humanos para os massacrados em tantos países deste mundo com as Nações Unidas a assobiar para o lado?
Onde estão os direitos humanos para os milhões de refugiados? – perguntem ao Eng. António Guterres. Onde estão os direitos humanos para os espezinhados pelo liberalismo selvagem de uns e pelo comunismo, que ainda existe, de outros? E vem este juiz alegar com os direitos humanos para um pária que mudou de sexo quem sabe para não lhe acontecer o que acontece muitas das vezes aos violadores uma vez detidos. São estas contradições absurdas que me levam a não acreditar num futuro risonho para o mundo que pretendemos moderno. Será que merecemos ser chamados de racionais? Desculpem, caros leitores, a dureza desta crónica numa época natalícia. Há que abanar as consciências quando elas estão mais permeáveis. Tenham todos um bom Natal e um 2010 cheio do que quiserem são os votos dos que trabalham no Maria da Fonte.
Até um dia destes.