EDITORIAL

Armindo Veloso




Marketing


No mundo actual, o marketing está presente em tudo.
Estavam longe de pensar os criadores desta ciência capaz de nos persuadir, que o marketing político atingiria os níveis de complexidade que vieram a atingir.
Não direi, como um dia disse Emídio Rangel, então director geral da SIC, quando afirmou que a televisão era capaz de eleger um Presidente da República como vende um sabonete. A prática tem mostrado que não se chegará tão longe. No entanto, os últimos tempos têm sido pródigos em autênticos malabarismos políticos estudados pelos marketeer's de serviço.
Quando se diz, por exemplo, que a economia está a decrescer 3% num determinado trimestre e no trimestre seguinte ela só decresceu 2,7%, será mais honesto dizer que a economia cresceu 0,3%, como dizem os tais, ou que a economia decresceu menos 0,3%?
Há sempre quem diga que é para animar a malta. Será? E se for, não seria melhor explicar cabalmente às pessoas quando as coisas estão más, menos más, ou boas? Se se disfarça com formas dúbias de entreter os números, que argumentos há para não aumentar os salários, por exemplo? Com a inflação negativa? Quem sabe o que isso é?
Mais: o que dizer, por exemplo, de assuntos polémicos serem atirados para cima dos media quando convém? Garantiram-me, pessoas ligadas a estes grandes meandros do marketing político, que o partido socialista só aceitou falar intensamente, com a ajuda da RTP e da Fátima Campos Ferreira..., nos casamentos entre homossexuais antes do natal – não havia pior época para se falar deste assunto... — porque o caso “Face oculta” tinha que ser diluído o possível com outros assuntos. Quanto seria bom vivermos num mundo com menos artimanhas.
Os políticos fazem-me lembrar os vendedores de time-sharing. Dizem ao cliente que lhe estão a vender um apartamento quando, na realidade, apenas lhe vendem o direito a usá-lo uma semana por ano.
E o povo lá vai umas vezes cantando e rindo e outras gemendo e chorando.
Até quando?...
Até um dia destes.