EDITORIAL

Armindo Veloso




  

Os Marias

Quando assumi as funções de director do jornal Maria da Fonte, já lá vão 15 anos, deparei-me com um jornal ‘pré-histórico’ - com a devida vénia para com quem o fazia porque os recursos que tinham humanos e tecnológicos eram escassos.
Um jornal com oito páginas a preto e branco, onde se aglomeravam notícias e anúncios com critérios discutíveis ao ponto de na primeira página serem publicados editais e anúncios de necrologia.
Era um jornal onde a pequena notícia se impunha desde aniversários de assinantes a ‘noticias’ acerca de férias passadas por alguns notáveis, muitas das vezes os ‘notáveis’ que deixavam uma ‘lembrança’ para o jornal, passando por donativos a instituições e por aí fora.
Feita esta introdução que não pretende de forma alguma beliscar nenhuma das pessoas que editavam o Maria da Fonte, vejamos: nesse tempo o Maria da Fonte tinha mais de quatro mil assinantes pagantes. Então com as novas tecnologias inexistentes ou apenas a despertarem, os assinantes do Maria da Fonte, principalmente os emigrantes  - sustentáculo importantíssimo, ainda hoje, para que este título exista, queriam sofregamente saber notícias da sua  terra. E as notícias que mais lhes interessavam eram aquelas que eu ridicularizei de certa forma no início deste texto: os aniversários; a necrologia; as festinhas locais; os bombeiros; a GNR ; as zaragatas ou até os crimes; os acidentes, etc, etc. Tudo isto era lido de fio a pavio. Se houvesse disposição e tempo talvez lessem umas pouquitas acerca da política local.
Ora, de há quinze anos até aos nossos dias o mundo deu não sei quantas cambalhotas e dentro dessas a evolução nos meios de comunicação social foram espantosas.
Hoje, um emigrante em França; Suíça; Luxemburgo; ou noutro país qualquer – o Maria da Fonte está nos sete cantos do mundo - à distância de um click no computador está a ver a sua terra e o que lá se passa e as suas gentes. Daí que fazer um jornal com as características de antigamente não tem qualquer fundamento.
Fazer um jornal mais profundo com peças grandes e com uma grande base política tem um inte-resse relativo para a grande massa dos assinantes. Há umas centenas que gostam mas há milhares cujos conteúdos já lhes dizem pouco ou nada.
Há que sabermos fazer o melhor dos dois mundos polvilhando as tais peças com breves com interesse.
O número de assinantes tem caído de forma significativa na imprensa com as características do Maria da Fonte. Saber que não há milagres e que os tempos são cruéis para toda a imprensa principalmente para a que vive das assinaturas é meio caminho andado para prevenir o futuro e tomar medidas para que a linha descendente vá tomando uma posição horizontal, pelo menos.
Como as coisas são: oito páginas a preto e branco para onde se ‘atirava’ informação que muitos achavam ridícula punha os assinantes à espera do jornal como quem espera por uma carta de amor.
Agora vinte ou vinte e quatro páginas com muita cor onde se insere informação mais elaborada criam indiferença na maioria de nós.
Os grupos etários não explicam tudo. O mundo mudou. Ponto final. E o Maria da Fonte ainda se vai aguentando com as assinaturas pagas e com alguma, pouca, venda em banca. Há outros títulos, muitos, que se não dessem jornais aos braçados onde um ou outro transeunte ainda vai pegando já tinham deixado de existir.

Até um dia destes.