EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Circunstâncias 

No início da minha vida profissional trabalhei como colaborador oito anos, quatro mais quatro, em duas empresas diferentes. Não exerci em nenhuma delas qualquer lugar de gestão, como era normal com a idade que tinha na altura.
Na segunda empresa que trabalhei, no grande jornal diário ‘O Comércio do Porto’ começou a   constar-se que havia dificuldades económicas e financeiras e que a empresa estava em risco.
Para nós, colaboradores, não se passava nada. Tínhamos o salário religiosamente depositado na conta no final do mês e continuávamos a ver o secular diário a ser editado na imponente sede na avenida dos aliados no Porto.
No meu tempo nunca faltaram os salários e dificuldades sérias se as havia, e havia como se veio a verificar mais tarde, o problema era dos gestores e accionistas.
Nos anos que se seguiram quis a Vida que eu desempenhasse um lugar de gestão em pequenas e médias empresas ganhando como se poderá depreender mais do que durante aqueles anos.
Só que, o prazer do final do mês foi-se. Ou seja, mesmo recebendo, também o facto da maioria dos meses haver stress para a tesouraria satisfazer todos os compromissos – todos! - levava-me a querer que o final do mês não chegasse.
Quero que fique bem claro que sou solidário com quem ganha um salário mau, medíocre ou suficiente, que são a maioria dos portugueses, e que rezam para que o final do mês chegue. Estou apenas a divagar um pouco acerca das circunstâncias diferentes nos remeterem para stresses diferentes.
Há muitos gestores ou gerentes de pequenas e médias empresas por esse país fora, conheço alguns, que ficam com lágrimas nos olhos por terem de comunicar aos colaboradores que têm que esperar mais uns dias pelo salário ou mesmo terem de dizer a alguns deles que terão de deixar a empresa para que outros se aguentem.
Esta realidade que conheço choca com gestores ou empresários que pagando à míngua aos colaboradores enquanto as empresas são rentáveis põem o dinheiro e outros patrimónios em lugares seguros, ou em nomes convenientes, ao primeiro sinal de alarme na tesouraria da(s) empresas.
A desumanidade não se vê só nas múltiplas guerras que nos entram casa adentro através dos media. Vêm-se também nos comportamentos egoístas que estão aqui ao virar da esquina.
 

Até um dia destes.