EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Utopias 

Era uma vez um pequeno concelho onde moravam cerca de sete mil pessoas.
As diversas freguesias desse concelho viveram sempre de costas voltadas umas para as outras defendendo raivosamente os seus territórios, as suas colheitas e os seus recursos naturais principalmente as nascentes de água.
Com o passar do tempo os presidentes de junta das diferentes freguesias começaram a encontrar-se regularmente e foram falando que se as terras do alto concelho eram boas para cereais, frutas, azeite, etc; as do baixo estavam talhadas para forragens para o gado, milho, feijão, batatas, etc e havia duas ou três, por sinal das mais pobres, que tinham nascentes de água em abundância, porque não uns produzirem uns produtos que eram comercializados nas feiras, a preços controlados, os outros fariam exactamente o mesmo com os seus enquanto as freguesias produtoras de água a forneciam através de regadios e bombagem para os pontos mais altos do concelho.
Durante os primeiros tempos parecia o céu na terra. Os vários presidentes de junta assinaram acordos entre si e confraternizavam com umas tigelas na tasca mais próxima.
Com o decorrer do tempo e passadas algumas colheitas começou a sentir-se algum mau estar entre os produtores de cereais que se sentiam decisivos para toda aquela gente e começaram a regrar o seu fornecimento e a não cumprir nos preços. Os presidentes de junta dessa freguesias, pressionados pelos lóbis, não tiveram outro remédio que não fosse tomar o partido deles. Logo a seguir os produtores de forragens fizeram o mesmo dificultando o fornecimento. E, pior ainda, as freguesias produtoras de água retaliaram pondo em pé de guerra todo o concelho.
As conspirações e mesmo reuniões públicas ao mais alto nível multiplicaram-se e todos já duvidam que a tal ideia tenha sido boa.
O povo começou a fazer correr que estava-mos melhor antigamente, os presidentes de junta não sabem o que fazer e o clima de guerra paira no ar.
Se adaptarmos esta ficção ao planeta; países; produtos primários; recursos naturais e acrescentarmos uma palavra mágica: “Globalização” e uma expressão mágica: “Natureza humana” temos os dias e o mundo aqui ao virar da esquina...

Até um dia destes.