EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Desta vez Futebol. 
Ou não?... 

Quando Fernando Santos foi confirmado como seleccionador nacional fiquei satisfeito porque o acho um homem adulto, sereno e capaz de liderar um grupo de jovens ricos e presunçosos que são produto de uma sociedade plástica e sem valores como a que orgulhosamente temos construído.
No programa de comentário dominical Marcelo Rebelo de Sousa aceitou o desafio da Judite de Sousa e comentou o salário que Fernando Santos ganha como seleccionador: cem mil euros mensais. Só aí fiquei a saber.
Dizia Marcelo que o povo critica o que os políticos, empresários ou gestores ganham mas que perdoa tudo ao mundo do futebol. Infelizmente concordo consigo Marcelo Rebelo de Sousa.
De facto, vemos todos os dias nos media e ouvimos todos os dias nos cafés, transportes públicos ou em outros quaisquer locais onde haja pessoas, zurzir nas remunerações dos políticos ou gente ligada à gestão de empresas públicas ou mesmo privadas que se forem  cotadas na bolsa têm que informar o valor das remunerações dos seus  administradores.
Pergunto: como é possível que se desanque num ministro que ganha cerca de seis mil euros ou num deputado que ganha cerca de quatro mil sendo certo que uma boa parte deles são humanamente sérios e se dedicam o melhor que sabem e podem à causa pública?
Como é possível que ao mesmo tempo não se desanque numa Federação que paga um salário de cem mil euros ao seleccionador?
Como é possível que não se desanque em salários pagos a jogadores de futebol que ganham num dia o que alguns trabalhadores ganham num ano?
Como é possível acharmos bem, por omissão, que um empresário de futebol, seja ele qual for, ganhe milhões a leiloar rapazes com jeito p'ra bola?
Como é possível que esta sociedade pactue com tudo isto impávida e serena? Sim, aí impávida e serena!
Não quero diabolizar o futebol porque é um desporto que faz falta à sociedade nem que seja como divertimento ou sarjeta de frustrações. O que me revolta é que aí já são os mercados a funcionar como me dizem.
Para mim “os mercados”, sem regulação, são todos maus. Os financeiros e os “futeboleiros”.

Até um dia destes