EDITORIAL

Armindo Veloso




 
A maior 

No meio de tantas e tantas notícias horríveis que aconteceram por esse mundo fora na época dita estival, desde guerras, abate de avião, fotografia trágica do casal polaco, decapitações, para falar só das mais anormais, seleccionei para este texto uma notícia muito maior do que aquelas todas juntas.
Num pequeno mercado junto à  praia frequentado por gente de todas as idades e de muitos países onde vão fazer as pequenas compras do dia não há como evitar apreciarmos alguns comportamentos das pessoas que nos estão próximas. Num desses dias uma senhora procurava salsa na secção de frutas e legumes.
Dirigiu-se à caixa e perguntou se aquela erva estava esgotado. Estava. Depois de se lamentar que ia fazer um cozinhado que não ficava bom sem aquele condimento, uma senhora aparentando uns setenta anos foi ao saco das suas compras, já pagas mas encostado à porta de saída, remexeu e voltou a remexer e tirou de lá um pequeno ramo de salsa com meia dúzia de pés. Dirigiu-se à tal senhora e com o raminho acarinhado na mão disse: - minha senhora só havia esta. Mas pegue. -Nem pensar, por amor de Deus, retorquiu a sua interlocutora. - Eu insisto, hoje remedeio e amanhã Deus dá.
“Hoje remedei-o e amanhã Deus dá”.
A frase: hoje remedeio e amanhã Deus dá, por muitos anos que viva não me sairá mais da cabeça.
Já contei esta pequena história a muita gente que amo. Quero partilha-la com os meus caros amigos assinantes/leitores.
Comecei por dizer que esta notícia/história era mais importante do que todas as outras juntas porque num mundo onde faltam adjectivos para qualificar os comportamentos humanos quando vemos um gesto de amor como aquele achamos que estamos a sonhar porque o normal é vermos invejas e ódios que aqui levam a uma sacholada e ali a uma guerra.
Tenho-me perguntado muitas vezes, utópicamente, se a comunicação social de todo o mundo começa-se a noticiar essencialmente o bom e ignorasse grande parte do mau se haveria com o tempo uma mudança significativa , para melhor, no comportamento humano. Não tenho grandes dúvidas que sim.
Haveria a segunda decapitação, a terceira e a quarta se a primeira tivesse sido noticiada só em nota de rodapé, para cumprir o dever de informar, mas sem ser acompanhada das imagens e palavras minuciosamente seleccionadas pelos membros do EI (Estado Islâmico) cumprindo na integra o objectivo pretendido por aquela seita?           
Até um dia destes.