EDITORIAL

Armindo Veloso




 
Fasquias

Já aqui recordei há anos uma frase de uma pessoa de família que do alto dos seus oitenta anos, de muitas experiências vividas, me dizia que devemos olhar para cima para termos ambição quanto baste para “subirmos na vida” mas também deveremos olhar para baixo para sermos razoáveis, solidários e realistas.
Um clube de futebol, por exemplo o Futebol Clube do Porto, quando anda há anos e anos a bater-se nas melhores provas e ou as ganha ou fica em lugares honrosos e lá vem um ano que as coisas lhe correm mal, o que é perfeitamente normal – de outra forma as competições deixariam de ter interesse –, cai o carmo e a trindade e os sócios e adeptos quase comem vivos os que então endeu-savam; quando um atleta bate todos os recordes e ganha nuns Jogos Olímpicos sete medalhas de ouro e nas seguintes “só” ganha três passa a ser considerado uma decepção e os media desancam-lhe a imagem; quando uma empresa tem resultados positivos meia dúzia de anos seguidos e em um tem resultados negativos, depois de ganhos acumulados é perfeitamente normal isso acontecer, os accionistas ou os gerentes ligam as sirenes e os então competentes passam a ser olhados de soslaio, no mínimo; quando as condições de vida de um povo melhoram durante anos ou décadas a fio e de repente esse nível tem de baixar ficando mesmo assim muito acima do que era há vinte anos atrás passamos a ser miseráveis e arregaçamos as calças nas autoestradas. A natureza humana é mesmo assim. O que mais me irrita no meio disto tudo é que os que mais barulho fazem não são os milhões que têm pequenas reformas ou salários baixos ou médios. São, isso sim, os milhares de reformados representados por damas de lantejoulas ao pescoço - nos últimos tempos foram retiradas, grande conselho... - ou trabalhadores com sindicatos poderosíssimos que estão muito longe de serem os mais penalizados nas crises.
E os media andam em volta desses, a árvore, e esquecem-se dos outros, a floresta.  
 

Até um dia destes.