Belarmino Marques Dias


“O trabalho deste executivo tem de ser avaliado a partir daquilo que foi prometido”

Belarmino Marques Dias, quadro superior dos CTT, é, desde Abril de 2010, o presidente da concelhia do Partido Socialista da Póvoa de Lanhoso. Mestre em Psicologia do Desporto e Exercício Físico pela Universidade do Minho, exerce a sua actividade nos CTT há mais de 30 anos. Paralelamente à sua actividade profissional, a sua vida sempre se pautou por uma intervenção cívica muito marcada. Foi membro da Assembleia Municipal e Vereador. Nos últimos dez anos colaborou de forma intensa e activa com a imprensa local assinando uma crónica quinzenal. A sua intervenção estendeu-se, entre outras, à Associação Cultural da Juventude Povoense (ACJP) e ao Sport Clube Maria da Fonte, como atleta e treinador das camadas jovens.

Maria da Fonte - Quando iniciou a sua intervenção política no concelho?
Belarmino Dias - Embora já tivesse uma actividade de intervenção, com textos publicados no jornal “Maria da Fonte”, formalmente, eu, o Lúcio Pinto e o António Lourenço ingressamos no PS, por via da Juventude Socialista, em 1987, numa lógica de intervenção política local. Nunca nos moveu outra coisa que não fosse fazer intervenção ao nível da Póvoa de Lanhoso. Nessa ocasião, o PS era oposição e penso que conseguimos introduzir algum dinamismo, melhoramos as nossas listas nas freguesias e em 89 ficamos a 108 votos de ganhar a Câmara, a qual conseguimos em 93. É claro que, isto não aconteceu só pela nossa parte pois o partido já vinha num crescendo e já havia um descontentamento do outro lado. Creio que demos um contributo interessante. Desde aí, mantive-me sempre ligado às questões da Póvoa.

MF - Desde quando desempenha o cargo de presidente da Comissão Política do Partido Socialista?
BD - Sou presidente da Comissão Política do Partido Socialista desde o início de Abril de 2010. Como o mandato é de dois anos, o mesmo estende-se até Abril de 2012.

MF - Que balanço faz deste período como presidente da Comissão Política?
BD - Faço um balanço positivo, apesar das dificuldades. Em 2009, quando não ganhamos as eleições, inicia-se um ciclo complicado para o Partido Socialista na Póvoa de Lanhoso. Um ciclo complicado porque o PS perde duas figuras de referência na Assembleia Municipal: o Dr. João Tinoco de Faria e o Prof. Luís Noronha e, cumulativamente, deixa de ter a maioria naquele órgão. Um contexto duplamente difícil. Paralelamente, perde-mos algumas freguesias, passamos de 23 para 15 e dessas 15, temos várias cujos presidentes, nos termos da lei, não podem ser candidatos em 2013. O contexto é extremamente difícil e agravado por alguns factores de menor motivação, como é fácil de perceber. Aquilo que nós temos feito, desde o início, é tentar fazer com que as pessoas não percam a motivação. Temos ido às freguesias e temos feito um esforço muito grande nesse sentido. Não é só pelo partido mas é, sobretudo, pelo concelho, porque a Póvoa de Lanhoso precisa de um PS determinado e de uma alternativa forte. Aquilo que nós temos, hoje em dia, em termos de poder é mau demais. Para além disso, fazemos a oposição na Assembleia Municipal, que é um espaço em que o debate fica lá fora, em que o presidente não responde a questões nenhumas; nas reuniões de Câmara, onde acontecem algumas situações caricatas e pela comunicação social através dos meios disponíveis: conferências de imprensa, notas de imprensa ou comunicados. Aqui recordo que estamos a falar de uma imprensa local que sai de 15 em 15 dias.

MF - Que comentário lhe merece o trabalho da equipa liderada por Manuel Baptista?
BD - O trabalho deste executivo tem de ser avaliado a partir daquilo que foi prometido. É necessário, por isso, recuperar as promessas do “mais trabalho”, “mais transparência”, “mais rigor” e “mais vida na Póvoa”
Comecemos pelo rigor e pela transparência. Onde é que estão? É transparente um presidente que não responde às questões que lhe são colo- cadas? Que, por exemplo, não explica aos povoenses porque razão não convidou empresas da Póvoa de Lanhoso para a construção do Centro Educativo de Campo? Que promove ajustes directos para cabimentar obras já realizadas? Que assina contratos de adjudicação para obras depois das mesmas terem sido executadas e inau guradas? O espaço deste jornal arriscava-se a não chegar se colocássemos aqui todas as situações onde o rigor e a transparência ficaram à porta. Desde as contratações de pessoal, escandalosas, até ao incumprimento no pagamento a fornecedores.

MF - Faz uma avaliação negativa?
BD - É óbvio. A pergunta que deve ser feita é muito simples: está a Póvoa de Lanhoso hoje, passados seis anos de gestão deste executivo, melhor? Onde estão as obras estruturantes, importantes para o desenvolvimento da P. Lanhoso, que enchiam a boca do PSD? Retirando os Centros Educativos, que por sinal são consequência da política educativa do poder central, o que é que se conhece? Onde estão: o Parque Empresarial Integrado? Os espaços desportivos? A circular urbana? O PDM? E algumas delas foram apresentadas com pompa e circunstância antes das eleições de 2009. Por exemplo do Fórum Municipal ainda existe, quase tapado pela vegetação, um enorme cartaz a anunciar a obra ali ao pé do Pavilhão 25 de Abril. E todos os anos esta Câmara Municipal apresentou orçamentos mais elevados. Quando o PS era poder, as promessas, com maior ou menor dificuldade, eram para cumprir. Agora só valem até à contagem dos votos.
MF - Mas os povoenses, a avaliar pelos resultados de 2009, parecem não pensar assim...
BD - E isso muda alguma coisa do que atrás foi dito? Podia responder-lhe a esta “provocação” de muitas formas, com exemplos muito pouco abonatórios acerca de pessoas que ganharam eleições por larga margem. A história está repleta de casos desses. E isso não tornou essas pessoas melhores. Todos nós sabemos os efeitos do populismo fácil e demagógico. Deixe-me dizer-lhe uma coisa. Esta câmara e este executivo também fazem coisas bem feitas, designadamente na área da cultura e da acção social. O que é normal. Mas, mesmo aí, fazem-nas sem rumo nem objectivos. Ninguém os conhece. E isso é o pior que esta Câmara tem. A falta de rumo. É que ninguém sabe para onde quer ir e onde quer chegar. E quem não sabe para onde vai...

MF - Alguns presidentes de Junta queixam-se da falta de obras. Partilham da mesma opinião?
BD - A nossa posição é de absoluta solidariedade para com os presidentes das Juntas de Freguesia. Respondo com outra pergunta. Alguém consegue ver obras nas freguesias? Onde estão? E a descentralização e autonomia financeira, prometidas por esta Câmara, o que é feito delas? Há freguesias que não vêem um cêntimo de investimento há alguns anos. Connosco, isto nunca acontecia.

MF - Falam da falta de rigor e transparência. Qual a razão?
BD - São várias. Mas podemos começar pela questão do Centro Educativo de Campo. A pergunta é simples e o presidente da Câmara deveria responder de forma simples e objectiva mas não responde, nada diz. Porque não explica aos povoenses a razão pela qual não convidou empresas da Pó-voa para apresentar propostas para a construção do Centro Educativo de Campo? Não respondendo, dá-nos direito a pensar o que entendermos. Depois, há outras questões pelo meio, como já foi demonstrado com os trabalhos a mais no Centro Educativo António Lopes, a questão dos ajustes directos. Isto é surrealista. Então fazem-se ajustes directos para pagar algo que já foi feito? É isto que esta Câmara faz, tem feito, e tem-no assumido. Aliás, já no mandato anterior, esta Câmara inaugurou uma obra, e está noticiado no vosso jornal, cujo contrato de adjudicação foi assinado dias depois da inauguração. Estas trapalhadas são praticadas pelos paladinos do rigor e da transparência. A nós, compete-nos participar e denunciar estes casos às entidades competentes. É o que temos feito. Quanto às perguntas sem resposta, sem as deixarmos cair, podem ser um bom desafio para o jornal Maria da Fonte. Pode ser que ele responda ao “Maria da Fonte” se lhe colocarem as questões de forma objectiva.