Editorial

Armindo Veloso




SOS 53

Os cerca de cinquenta e três por cento de abstenção que se verificaram nas últimas eleições presidenciais são um absurdo.
Até nisso nos estamos a americanizar. Nos EUA, já foram eleitos presidentes em cujas eleições votaram trinta por cento dos eleitores inscritos.
Julgo que se não houver uma campanha de sensibilização junto dos jovens, escalões etários onde a abstenção é gigante, nos vamos rapidamente aproximar daqueles números.
A maior parte dos jovens, uma vez que não conheceram outro sistema para além do democrático, estão-se nas tintas para as eleições. Atenção(!), caros jovens.
Ao contrário do que disseram muitos comentadores, julgo que estas foram as eleições, de reeleição de um Presidente, mais disputadas.
Vejamos: Defensor Moura, um franco-atirador de esquerda; José Manuel Coelho, um candidato, caricato, para mobilizar o voto de protesto; Manuel Alegre, um grande senhor de esquerda apoiado pelo PS, Bloco de Esquerda e MRPP; Fernando Nobre, um homem intocável que representou como nunca o voto da chamada cidadania; Cavaco Silva, apenas o homem que ganhou mais eleições em Portugal e logo com que votações. Mas que grande “Carta” de candidatos.
Houve, para mim, três grandes surpresas nestas eleições.
A primeira, a percentagem de abstenção. Segunda, o número de votos, pequeno em valores absolutos, em Cavaco Silva. Terceira, a ridícula votação em Manuel Alegre tendo em conta os partidos que o apoiavam.
Senhores políticos, registem uma lição: Os partidos não são donos dos votos. Não façam dos eleitores trouxas.
Uma pergunta: Como pode um homem inteligente como Manuel Alegre, rodeado por um staff de pessoas inteligentes, cometer erros de estratégia clamorosos?
Ainda gostaria de saber, o que nunca acontecerá, qual seria o resultado de Manuel Alegre se este fosse o de há cinco anos - arejado, verdadeiro e distante dos partidos.
Independentemente de tudo isto, facto é facto, Cavaco Silva tem toda a legitimidade do mundo para exercer o seu mandato. As maiorias absolutas nas eleições para o Parlamento atingem-se com bem menor número de votos.
Um bom mandato para si, Presidente Cavaco Silva.
E para nós.
Até um dia destes.