Cem anos de República (23)

Natal aquece combate
‘católico’ à República

Destruído o Castelo de Braga, apesar da oposição de Albano Belino, em 1906, esquecido o sonho de Braga como eixo ferroviário entre o Minho e Trás-os-Montes, nova ofensiva lisboeta se abatia sobre Braga e neste fervilhar de ameaça republicanas entronca o levantamento de Braga contra o centralismo lisboeta.
O novo episódio de batalha em Braga é a intenção de levar o Arquivo do Cabido da Sé para Lisboa e o fecho da Escola Normal.
Apesar das divisões (Partido Democrático, de Afonso Costa, Evolucionista de António José de Almeida, e União Republicana de Brito Camacho), o regime ia-se impondo e fracassavam as conspirações monárquicas. O único perigo real era a Igreja e contra ela se travou um combate quase permanente a partir de 1910.
Braga vê-se confrontada com duas medidas que ameaçam diminuir-lhe o brio e esvaziar-lhe materialmente a sua memória: querem levar o Arquivo da Sé para a Torre do Tombo e extinguir a Escola Normal.
Manifestações de protesto enchem as ruas de Braga lideradas por Justino Cruz contra Júlio Dantas, enquanto o deputado Domingos Pereira protesta no Parlamento. Valeram a pena os protestos. Na luta pela Escola Normal erguem-se as mesmas vozes mais Manoel Monteiro que se de-mite do Governo Civil, como protesto, inspirando uma moção de José António Cruz, aprovada na Câmara Municipal contra este intento.

Apaziguamento inútil

A Igreja de Braga, surpreendentemente, adopta uma estratégia de apaziguamento que dura pouco tempo, por causa do fecho das suas escolas (Espírito Santo, Coração de Maria, Seminário de Montariol, Colégio S. Tomás de Aquino). Vários edifícios da Igreja eram e colocados ao serviço da República.
Há 100 anos, a 24 de Dezembro, o Episcopado português toma a primeira posição de força, através de uma pastoral colectiva, que começa a ser lida ao mesmo tempo que avançava o Registo Civil (até então serviço em poder exclusivo da Igreja).
Muitos padres (Caniçada, Salamonde, Tadim, Navarra, Adaúfe e Cunha, entre outros) são detidos por terem lido aquela carta dos bispos que o Governo de Afonso Costa proibira, enquanto ministro da Justiça. Os bispos eram punidos com degredo para territórios ultramarinos, como aconteceu com o barcelense D. António Barroso, enquanto o arcebispo de Braga era suspenso da titularidade da Sé de Braga e exilado para fora da arqui-diocese que ficou sem bispo durante três anos. O presidente Arriaga começa a perceber que a detenção dos bispos — quando viaja para Braga D. Manuel Vieira de Matos que já tinha sido preso durante 13 dias — apenas serve para “arranjar mais inimigos para o novo regime entre os católicos da sua diocese e do país” (cf. Commercio do Minho)...