Cem anos de República (18)

De Manuel Monteiro
até Gonçalo Sampaio

Que teve de fazer, em 1892, o ministro Dias Ferreira, quando a dívida pública absorvia metade das receitas do país? — perguntávamos na última crónica. Cortou 12,5% nos salários dos funcionários, aumentou 15% os impostos, enquanto a moeda é desvalorizada (deixando de ser comparada com o ouro) acompanhada de inflação galopante que atingia os mais pobres. Os acontecimentos de 1892 agravaram o pessimismo do povo e a profunda descrença nos governantes até ao dia 1 de Fevereiro de 1908, numa “tarde linda, azul, morna, diáfana” em que mataram o Rei D. Carlos e o príncipe Filipe, herdeiro do trono. O outro infante D. Manuel II é proclamado rei, aos 18 anos. Em Outubro, os republicanos ganharam em Lisboa e “num pais como Portugal, onde o peso da capital resumia toda a Nação, isso queria dizer o fim das instituições monárquicas”. No dia 5, o o rei fugia com toda a família “para não mais voltarem” — escreve, com amargura, Oliveira Marques.
Tudo começara, num caminho sem regresso, a 31 de Janeiro de 1891, no Porto, onde participaram alguns bracarenses, nessa luta encarniçada entre republicanos e a guarda municipal “com o fim de proclamar a República” (cf. Ménici Malheiro, in Braga Contemporânea, pp. 73 e ss.). Sobre o sangue derramado, o povo começa a perceber o que é a República — o governo do povo e pelo Povo — para acabar com “o luxo dos nobres, a avidez da Igreja, a estupidez de mistura com a ignorância mais crassa do burguês e dos filhos de algo, legando aos conventos, na intenção de alcançarem o céu, todos os seus bens” (...) que fez de Portugal “um país moribundo” em que “só a igreja medrava, à medida que aumentava o número de enjeitados”.

Republicanos
no Minho

Em Braga, “o Partido Socialista contribuiu poderosamente para que saísse do seu entorpecimento asqueroso, nostálgico e reaccionário em que não só a cidade como todo o distrito vinham arrastando-se de há séculos”.
Em 1889 estala em Braga a primeira greve, “da classe dos chapeleiros, que tinha por objectivo o aumento dos salários” mas é o fracasso que leva à criação de um Monte Pio e de uma Associação de classe “que teve de sustentar por vezes temerosas lutas com o patronato”.
Foram estes trabalhadores que criaram a Associação Fúnebre Familiar Bracarense que chegou a contar com cinco mil associados (para tratar do enterro dos filiados). A força da luta dos chapeleiros dá origem à criação da Liga das Artes Gráficas e de uma Cooperativa de Consumo — “Libertadora bracarense” —. Nesse tempo, já nomes como Manuel Monteiro e Simões de Almeida agitavam as consciências bracarenses numa cidade com “inúmeros parentes dos porcos de Epicuro”...