EDITORIAL


Armindo Veloso




Liberdade e isenção

Para responder a um pedido de uma entidade de Braga, fomos ao nosso arquivo catar os jornais imediatamente posteriores à revolução que daria origem à implantação da República em Portugal. Faz 100 anos a 5 de Outubro.
Nós, os que andamos nestas lides todos os dias, por vezes nem damos conta da importância que tem uma instituição, neste caso um jornal, como o Maria da Fonte que já tem 124 anos feitos.
Ao pegar em jornais quebradiços e ler o que se lê escrito há 100 anos, ficamos com um friozinho na espinha e fazemos uma pergunta a nós próprios: será que temos estado à altura da história deste jornal?
A resposta não é fácil.
A mais garantida e verdadeira será dizer que, para uns, sim e, para outros, não.
Uma coisa é certa, que eu saiba, a palavra liberdade esteve sempre associada a este jornal. É claramente o ponto de honra de quem o faz nos dias de hoje.
Quando temos a certeza do que dizemos e verificamos ressentimentos absurdos por parte de alguns sem o mínimo fundamento, o que fazer?
Há pessoas que confundem liberdade com isenção. A liberdade pode existir sem a isenção. Já a isenção não vive sem a liberdade.
Por outras palavras, se eu cedo espaço no jornal a todos os que queiram emitir a sua opinião seja ela qual for, eu estou a fazer um jornal livre.
Mas, dentro desse espírito “sagrado”, ao distribuir essa matéria, livre, eu estou a seguir um critério de espaço, localização e destaque que é meu, subjectivo, logo não isento.
Não há ninguém que consiga fugir a este dilema.
Por aquilo que disse atrás, o Maria da Fonte, e todos os outros meios livres, é um jornal livre mas, como é feito por pessoas, com opinião, não é um jornal isento. Só o seria se fosse feito por máquinas, irracionais.
Quando nos privam, voluntariamente, de informação, partidária por exemplo, alegando a falta de isenção, estão a ser cobardes porque sabem que não têm a mínima hipótese de pôr em causa a nossa liberdade.
Até um dia destes.