EDITORIAL


Armindo Veloso




Reformas

O tema: reformas, é uma assunto caro a toda a gente.
De facto, quando se trabalha durante muitos anos e se fazem descontos para a segurança social, há sempre a perspectiva de um dia, com saúde, se usufruir daquilo que se descontou.
Há, no entanto, quanto a mim, uma forma de muita gente pensar que é incorrecta.
Numa sociedade social-democrata onde se pretende que haja uma distribuição de riqueza entre aqueles que ganham mais e aqueles que ganham menos, fruto de muitas circunstâncias, tanto de uns como de outros, aquilo que se desconta em cada momento é para subsidiar a segurança social contemporânea. Sendo assim, alguém que desconte por exemplo dois mil euros por mês durante muitos anos deverá ter a esperança, e não mais do que isso, de na altura dele vir a usufruir de uma reforma correspondente com aquilo que descontou. Se isso, por várias circunstâncias não acontecer e receber muito menos, não há que ficar revoltado. Os descontos elevados que fez foram uma forma de distribuir alguma da sua riqueza que, por bom fado, ganhou, por aqueles que não o tiveram.
A segurança social não tem um porquinho/mealheiro de cada um de nós.
Os tempos mudam e as condições sociais também. Para dar um exemplo, talvez o maior, basta lembrar a esperança de vida. Há quatro ou cinco décadas atrás, cada pessoa, em média, estava reformada meia dúzia de anos, para não falar em quem não tinha reforma nenhuma. Agora, está dezassete ou dezoito!
Dentro deste mesmo raciocínio, também acho que não tem qualquer cabimento haver milhares de pessoas a acumularem reformas, algumas delas chorudas, pelo facto de terem desempenhado ao longo da vida várias actividades que lhes dão o direito à aposentação em cada uma delas. Por exemplo, um senhor X tem direito à reforma de professor universitário no topo de carreira de três mil e quinhentos euros. Entretanto, exerceu o lugar de quadro superior do Banco de Portugal que lhe dá mais quatro mil euros. E, ainda, foi administrador da EDP, logo mais seis mil euros. Este senhor X deveria poder optar pela reforma maior, neste caso a da EDP, e ponto. Desde quando deverá acumular treze mil e quinhentos euros de reformas?!!!
O dinheiro, na maioria destes casos, conheço alguns, nem é para essa pessoa. É, isso sim, para os filhos e netos andarem a gastar à grande e à francesa. Desta forma teremos estado social mais alguns anitos!...
Será assim tão difícil mudar a legislação que regula a segurança social? As novas gerações agradeceriam imenso.
Até um dia destes.