EDITORIAL


Armindo Veloso




Melão

Pedro Passos Coelho disse no congresso do PSD que iria apresentar no Verão uma proposta de revisão constitucional. Criou um grupo de trabalho para o efeito e apresentou-a. Cumpriu.
A proposta ainda não tinha sido tornada pública oficialmente e já havia dezenas de notáveis a dizerem dela “o que Maomé não diz do toucinho”.
Independentemente do conteúdo das alterações que este estudo propõe, há um facto evidente: em Portugal não há coragem para se fazer uma revisão a sério da Constituição. A Constituição da República Portuguesa deveria ser mais pequena, mais objectiva e, o mais importante, ser cumprida!
Nesta tentativa, ou porque é uma altura desadequada dada a crise que o país vive; ou porque põe em causa o Estado social; ou porque retira a justa causa aos despedimentos; ou porque não tem razão de ser o prolongamento em um ano dos mandatos do Presidente e do governo, ou porque os poderes do Presidente ficam muito reforçados, ou por outra coisa qualquer, não!
Há alterações propostas com as quais concordo outras com as quais discordo. Por vezes, compram-se guerras desnecessárias, sem um efeito prático visível. Há, no entanto, um ponto colateral a esta proposta de revisão constitucional que me interessa abordar.
Pergunto: o que seria mais fácil e cómodo a Passos Coelho: estar quietinho, não fazer ondas e deixar o governo de queimar em lume brando até o poder lhe cair no regaço ou afrontar o status quo — até do seu próprio partido a começar em Alberto João Jardim —com esta proposta de revisão constitucional? A resposta não deixa dúvidas, a primeira.
Independentemente de tudo, Passos Coelho é coerente quando diz que não lhe basta ir para o governo, quer ir com algumas condições e com uma perspectiva, dele, de futuro.
Pedro Passos Coelho é como um melão casca de carvalho. O aspecto promete. Como será o miolo? Será que um dia se saberá? Cá para mim, com esta guerra que comprou, ainda vai ver o poder passar-lhe ao lado. O que será melhor?...

Até um dia destes.