EDITORIAL


Armindo Veloso




Arregaçar de mangas

Sendo certo que a democracia resulta de um “jogo” permanente entre forças políticas com opiniões e perspectivas de vida diferentes, há momentos na história dos povos e dos países que, não a pondo no essencial em causa - refiro-me às liberdades soberanas –, deve ser metida entre parêntesis. Recordo a interpretação malévola que deram às palavras de Manuela Ferreira Leite – ela tinha tanta razão em tanta coisa que dizia, não tinha?... - quando ela disse que às vezes apetecia fazer um intervalo de seis meses na democracia, fazer as reformas necessárias e depois prosseguir o seu caminho normal, isto, dizia ela, para bem de um país sistematicamente adiado.
No momento que vivemos gostaria de ver Portugal e a liberdade postos acima de tudo. Escrevi liberdade porque ela só existe se o nosso país se mantiver soberano no essencial – fazendo parte da União Europeia, é certo, mas soberano, coisa que, pelo andar da carruagem, só ficaremos pelo papel de embrulho. Não tenhamos dúvidas, se não produzirmos mais riqueza e não baixarmos o déficit para níveis aceitáveis o fundamental será decidido por outros.
Então, suponhamos que tínhamos estadistas à frente dos principais partidos e que decidiam fazer um pacto de regime até ao final da presente legislatura e que enfrentavam esta crise histórica, explicando ao povo aquilo que é necessário fazer – eu nunca vi o povo tão permeável à mudança e aos sacrifícios – olhando-o nos olhos e dizendo-lhe que a tal reforma do Estado, mãe de todas as outras, é necessária e deve ser feita profundamente, contemplando a redução de municípios e freguesias; extinção dos governos civis; fim de institutos e institutozinhos; de empresas municipais feitas para os afilhados e para disfarçar divida; redução do número de deputados – a nossa constituição prevê entre 180 e 230 e nós fomos logo para o máximo, ah portuguezinhos aí!!! - ; e de muitas outras coisas menos relevantes mas cujo somatório contribuía para o emagrecimento do Estado na sua parte negativa cuja folga daria para muito melhor Estado na sua parte necessária e positiva.
Esta reforma arrastaria consigo outras já tentadas mas nunca concluídas como a da justiça, educação e saúde.
Só dessa forma, dizem todos os grandes conhecedores da matéria, Portugal terá um futuro risonho.
Arregacem as mangas e deixem de lado o vosso umbigo, José Sócrates e Pedro Passos Coelho. Portugal agradece.
Até um dia destes.