Franceses nas terras de Lanhoso há 2OO anos(28)

De Melgaço até Braga
cresce resistência religiosa armada
Recordamos como foram lançadas as sementes para a aliança entre o clero, as autoridades locais e o povo, no mesmo objectivo patriótico na região de Entre Douro e Minho, estimulando em cadeia o mesmo sentimento anti-francês para lá do Marão, como testemunho as grandes celebrações de que há documentação em Melgaço, Guimarães, Viana do Castelo, Braga e Póvoa de Lanhoso. Esta aliança foi decisiva na expulsão dos franceses há 200 anos. Ao lado desta movimentação do povo em armas, há o trabalho desenvolvido pelas Juntas, onde igualmente a igreja estava presente, aliadas às hierarquias militares, uma vez que o exército Português estava praticamente sem efectivos de combate no terreno, para a formação dos milicianos. Os casos de Braga e de Viana do Castelo são paradigmáticos.
VIANA CONTAMINA BRAGA
Os documentos que nos testemunham este movimento são os cartórios notariais ou então documentos oriundos dos mosteiros que, poucos anos depois, vão ser banidos. De alguns deles daremos conta na próxima crónica os quais atestam até que ponto o clero do Minho se envolveu de forma decidida e directa no combate aos franceses. Já aqui recordamos que foi de expectativa e de reserva a atitude do clero, nos primeiros meses de presença em Portugal do exército invasor napoleónico e de hostilidade crescente, depois, até à expulsão de Massena. Junot, na primeira invasão, dera a conhecer a hipocrisia das suas intenções marcadas pelo engodo em que caiu o Patriarca de Lisboa, morto pouco depois de senilidade e desgosto. É dessa fase intermédia o comportamento do Arcebispo de Braga que decidiu cumprir uma parte das decisões de Junot, ao contrário de muitos sacerdotes da arquidiocese, mas ignorou a vontade dos franceses no que respeita ao reconhecimento da rainha, continuando a celebrar missa solene no dia de aniversário da raínha. Quando se dá a segunda invasão, por terras de Barroso e Lanhoso, em direcção ao Porto, com a batalha de Carvalho d'Este, em Covelas, já o sentimento popular anti-gaulês estava bem vivo, alimentado pelos ecos de Espanha. Tanto é assim que, em Junho de 1808, Braga proclamava-se a favor dos franceses mas encontrou no clero um agente da resistência patriótica, apesar das vozes em contrário de alguns afrancesados. Por força disso, o ambíguo D. José da Costa Torres, arcebispo de Braga, mandou descobrir as armas reais na fachada do paço e restaurou na missa a colecta pelo príncipe regente e sua família. Na fronteira norte da dioceses (que incluía então o Alto Minho), Melgaço estava em rebelião aberta contra os franceses, assistindo no dia 9 de Junho ao Te Deum e ao sermão de circunstância na igreja da vila com a presença das autoridades. A resistência aos franceses faz-se ouvir depois em Guimarães, liderada por Mons. Miranda, no dia 16, e no dia 18 de Junho, em Viana do Castelo. A sintonia entre o clero, as autoridades locais e o povo, no mesmo combate patriótico era um facto em toda a região do Minho que se espalha em cadeia a Trás-os -Montes e ao Douro, apesar de alguma indecisão no Porto...