EDITORIAL

Armindo Veloso




Verão quente
É inédito em Portugal haver uma sequência eleitoral como a deste ano. Tivemos o aperitivo das eleições europeias que já provocaram alguma indigestão no partido socialista.
Seguem-se os dois pratos principais, legislativas e autárquicas, que poderão provocar algumas congestões graves, a mais grave de todas poder-se-á chamar: ingovernabilidade de Portugal.
Se houver uma maioria relativa do PSD ou do PS e os deputados do PP não chegarem para completar maioria absoluta com o partido ganhador, estará o baile armado.
Não tenho dúvidas que nem o PSD nem o PS, um deles ganha de certeza, farão coligações pós eleitorais com a CDU ou com o bloco de esquerda.
Nem o partido vencedor tem condições para isso nem nenhum daqueles quererá praticar haraquiri. Sabemos que o PCP e o bloco são partidos contrapoder. Ou um dia, utopicamente, são maioritários e aí impõem a sua política ou não serão nunca moleta de um partido central. Lembremo-nos do que aconteceu com o activíssimo Zé Sá Fernandes enquanto opositor e o papa-açorda do mesmo José Sá Fernandes agora abocado, inteligentemente, por António Costa em Lisboa. É muito bonito dizer mal. O problema é quando somos nós a ter de fazer...
O Dr. Mário Soares e outros poderão dizer as vezes que quiserem que essas coligações são possíveis e necessárias – estranho, porque quando esteve lá fez coligações sempre à direita – que o máximo que poderão ter é acordos pontuais no parlamento.
Sendo assim, teremos, provavelmente, um parlamento retalhado com cada um a puxar para o seu lado – veja-se o caso da eleição para provedor da justiça...- “vendendo” caro cada acordo pontual até ao dia que o chefe de estado, talvez já no segundo mandato, crie condições para novas eleições legislativas. É uma das hipóteses que se vislumbra.
A outra, é o bloco central que abordarei noutra oportunidade.
Com estas e com outras, o espaço desta crónica esgota-se e não falei das autárquicas. Afinal, essas, são as mais previsíveis. O problema põe-se daqui a quatro anos. Aí sim, vai haver uma revolução. Uma coisa é certa, com esta azafama eleitoral o país não adormeceu em Agosto. Está a ter uma actividade fora do normal e os hotéis e resort's é que estão a sofrer porque os coitados dos políticos trabalham de sol-a-sol.

Até um dia destes.