EDITORIAL

Armindo Veloso




Viagens na Minha Terra

Obrigado, grande Almeida Garrett, por me teres emprestado o titulo.
As nossas aldeias estão cada vez mais bonitas.
Não será necessário recuar, mais uma vez, aos anos sessenta para verificar a evolução fabulosa que as aldeias do nosso concelho, da maior à mais pequena, tiveram.
A casa “tipo maison” deu lugar a prédios novos com gosto ou, melhor ainda, as recuperações de casas abandonadas durante décadas tornam-se restauros maravilhosos.
Longe vão os tempos das cores berrantes e materiais de gosto duvidoso serem a regra na nossa terra.
Há, no entanto, algumas modernices que me chocam sobremaneira. A colocação de placas toponímicas é uma delas. Não sei se a lei o obriga, já me disseram que sim, mas, se assim não é, acho um disparate de todo o tamanho deitar por terra os históricos lugares — alguns deles com duas ou três casas onde toda a gente se conhece — e colocar nesse mesmo lugar um emaranhado de placas, chegando ao cúmulo de estarem três num espaço de meia duzia de metros com nomes de notáveis de cada uma das freguesias.
Nem se dignifica o ambiente nem os notáveis...
Pior ainda, fontes com garantia absoluta contaram-me que andam a espalhar herbicida nos muros das nossas estradas.
Não tenho nada contra os herbicidas e sei, por experiência própria, que dão bem jeito para controlar ervas daninhas, silvas e outras espécies infestantes. Agora, deitar herbicidas em muros que nos meses de primavera são pinturas da natureza com variadíssimas espécies de plantas e flores, por amor de Deus! Para além de sabermos que as plantas benignas que nascem nos muros só ajudam a conservar a sua solidez.
Das duas uma, ou temos os muros todos com juntas de cimento, ó disparate, ou temos o borrifo de herbicida a pôr tudo careca.
Já tinha reparado que há por aí uma fobia do tudo rapado. Rapem lá o que quiserem, mas deixem as ervas e as flores darem cor às nossas estradas.
A vida é tão cinzenta...

Até um dia destes.