EDITORIAL

Armindo Veloso



Sim, Senhor Primeiro Ministro
Todos nós sabemos que uma parte das promessas eleitorais são demagógicas ou intenções mais ou menos veladas para parolo ouvir em época de campanha eleitoral.
Que bom seria se o eleitorado tivesse menos palas e julgasse os governos, fossem eles quais fossem, pela execução do seu programa e das suas promessas aquando da campanha eleitoral.
Se assim fosse, haveria mais cuidado com as demagogias.
Se é certo que já ninguém estranha o não cumprimento de promessas eleitorais, também é certo que algumas, pelo facto de serem tão repetidas e emblemáticas, nos ficam nos ouvidos.
Uma delas é a criação de cento e cinquenta mil postos de trabalho pelo governo de José Sócrates.
Recordemos.
Em campanha eleitoral o então candidato a Primeiro Ministro, José Sócrates, prometeu até à exaustão a criação de cento e cinquenta mil empregos.
Nessa altura, final da era santanista, havia em Portugal em números redondos trezentos e cinquenta mil desempregados. Ora, alguém terá dúvidas que José Sócrates queria dizer que no final do seu mandato teríamos mais ou menos duzentos mil desempregados? Acho que ninguém, nem mesmo os socialistas mais sectários de uma forma honesta o poderão negar.
Pois é. Mas o nosso Primeiro Ministro e seus colaboradores fartam-se de dizer que a ideia da criação de 150.000 postos de trabalho, tarefa quase cumprida, era criação de emprego sem mais. Ou seja, era independente da taxa de desemprego.
Não nos chamem burros.
Dessa forma, por hipótese, o governo poderia criar os tais 150.000 empregos e provocar, com as suas políticas, oitocentos mil desempregados. A promessa era cumprida mas a taxa real de desemprego passava a ser de 20%.
Repito, alguém acredita?
O que me espanta é que este governo até não tem necessidade destas demagogias.
Apesar de tudo foi e é um governo equilibrado no essencial.
Porquê, então, atirar-nos areia para os olhos?...

Até um dia destes.