APRENDEU A ARTE “DE OUVIDO” E ASSUME ORGULHO PELA FORMA COMO TOCA

Carlos Machado:
Um exímio tocador de sino

Já são poucos aqueles que sabem tocar os sinos. Nas várias aldeias, a tecnologia sobrepôs-se ao toque manual do sino. A força de braços foi substituída pelos aparelhos e restam poucas pessoas que sabem tocar os sinos. Com um simples carregar no botão, coloca-se um toque de sino a ecoar por toda a aldeia. Já não é o que era antigamente mas, aqui e ali, vão-se encontrando exemplos onde a tecnologia ainda não se sobrepôs à força dos braços dos homens.
A vila da Póvoa de Lanhoso conta com um exímio tocador de sino. Carlos Manuel Machado tem 82 anos e mora no Horto, na vila. É conhecido por todos como o servo do Pilar. Reside numa habitação da Confraria de Nossa Senhora do Pilar há 60 anos. Uma vida. Todos quantos frequentam a Igreja do Pilar ou a Capela do Horto conhecem Carlos Machado. Aos Domingos, ao início da tarde, um táxi leva-o montanha acima até à Igreja do Pilar, onde permanece durante a tarde. Ao final do dia, regressa até ao sopé do monte do Pilar, onde reside, junto à Capela do Horto.
Encontramo-lo sentado junto à porta de casa, na conversa com um amigo. Ao se lado, o seu fiel amigo de quatro patas fazia-lhe companhia. Veio para aquela residência quando casou. Enquanto era novo, trabalhava fora e só ao Domingo é que se ocupava da Igreja do Pilar e da Capela do Horto. Nos restantes dias, era a esposa Maria Odete, de 81 anos, que se ocupava de tudo. Tal como o marido, também ela sabe tocar o sino. É o sacristão de serviço quando há celebrações naqueles templos.
Revela que aprendeu a tocar o sino “de ouvido”. “São uma porcaria dos sinos eléctricos. Não há ninguém que toque o sino como eu. Toda a gente fica admirada com a forma como eu toco o sino”, conta, orgulhoso, Carlos Machado.
“Morávamos em Lanhoso, ainda era eu rapaz pequeno, e ouvia tocar o sino. Ficava-me no ouvido”, diz-nos Carlos Machado.
“Eu trabalhava. A minha mulher é que fazia o trabalho todo. Eu só me ocupava disto ao Domingo. A minha mulher é que se ocupava de tudo durante a semana. Atendia as pessoas que vinham fazer promessas e acompanhava-as até à Igreja do Pilar. Naquela maré, a gente era nova e não custava nada. Agora, já não há tanta gente a fazer promessas. O povo por aqui sabe que eu estou ao Domingo à tarde lá em cima, na Igreja do Pilar”, revela.
Carlos Machado conhece várias histórias da vila e das suas gentes e tal como no sino, é um exímio contador de histórias.
Conhece a história de Santa Cristina de Bragança, sepultada na Capela do Horto e afirma, ao contrário do que alguns pensam, que o seu corpo ali permanece. “Já a vi por 3 vezes”, afirma, contando-nos a história de Santa Cristina. Sabe as datas precisas de vários acontecimentos e dá-nos a  conhecer um pouco da história da vila e das suas gentes, passando pelo Castelo, pela construção da Igreja do Pilar, da Igreja de Nossa Senhora do Amparo e de vários episódios vividos nas Terras da Maria da Fonte. “Tenho tudo na cabeça”, aponta ainda Carlos Machado.