Armindo Veloso




 
Instituições

Alexandre Soares dos Santos: “Tive exactamente as mesmas doenças do meu pai. Ele morreu aos 59 anos e eu tenho 80”. Esta frase dá que pensar. Foi dita numa entrevista ao Expresso de 7/12/2013.
A ciência está a fazer um milagre: prolonga, na maioria dos casos com qualidade de vida, a existência das pessoas até um ponto inimaginável há algumas, poucas, décadas atrás.
Em Portugal – poderia falar do mundo ocidental mas aqui interessa-me Portugal – existem dezenas de milhar de pessoas com mais de 85 anos. Que maravilha é vê-los, em muitos casos ainda activos e de boa saúde física e mental, a ralharem nas padarias, nas filas de supermercado ou nos centros de saúde, reivindicando a sua vez ao milímetro porque , dizem, tem o autocarro/camioneta ou muitos outros afazeres.
Partilhei há semanas atrás uma mesa durante horas com um casal. Ele com 84 anos e ela com 80. Como se alimentaram! Como se divertiram! Como estavam bem e frescos no dia seguinte depois de uma noitada!
Se isso é um milagre maravilhoso do nosso tempo, há que pensar também nos efeitos colaterais desta nova realidade. Não o fazer é metermos a cabeça na areia.
Se não fizermos, o Estado que somos todos nós, uma reformatação nas formas de pensar e agir, uma maravilha poder-se-á transformar em pesadelo.
Sem a solidariedade geracional que existia dantes, quando havia muitíssimo menos pessoas idosas, como resolver este assunto muito nobre mas muito sério?
As gerações que trabalham não têm, na maioria dos casos, condições físicas e humanas para cuidarem dos seu ascendentes velhos. As gerações mais novas, cada vez com menor número em cada uma delas, fruto do seu nomadismo, nem pensar. Resta-nos, para quem não tem posses significativas, as instituições de solidariedade social públicas ou privadas. Na minha freguesia natal, Verim, há o Centro Teresiano que durante muitos anos praticamente  só conhecia por fora. Agora que o conheço é que vejo o quão importantes são estas instituições.
Dão vida às pessoas. Também temos que lhes dar vida a elas.  
 

Até um dia destes.