EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Programações

Adianta alguma coisa falarmos das más decisões a jusante das crises por elas provocadas? Adianta se esses problemas ajudarem a reflectir profundamente e a aprender a lição.
Quando em Portugal explodiu o número de alunos a frequentar o ensino superior, quer nas universidades clássicas públicas quer nas privadas, então  criadas e demais institutos, havia que pensar, logo nessa altura, que se é bom, muito bom, que o ensino universitário se tenha democratizado - uma sociedade culta é uma sociedade desenvolvida a todos os níveis - mas também se deveria ter em conta que a proliferação de cursos e de número de alunos por curso iria desaguar num beco sem saída.
Que nos adianta deixar licenciar toda a gente em cursos para os quais o mercado profissional não dá saída?
Não estava à vista de todos que Portugal, um pequeno país com dez milhões de habitantes, não dava ‘vazão’ a centenas de milhar de licenciados sem critério? Não seria melhor, respeitando sempre a liberdade de cada um, encaminhar grande parte desses licenciados para cursos profissionais estes com aplicação prática no mundo do trabalho?
Tenho vários familiares jovens a trabalhar fora de Portugal, mas dentro da Europa. Dizem-me que tiveram de emigrar para se poderem realizar profissionalmente. Não concordo com a expressão ‘emigrar’ nestes casos. Então na União Europeia não há liberdade de pessoas e bens dentro desse espaço comunitário? Acho que o termo ‘emigrar’ utilizado dentro da União Europeia, ainda mais dentro da Zona Euro, é referido, quando convém, de forma depreciativa.
Quando se diz que andamos a investir na formação de jovens para eles irem rentabilizar a sua formação para o estrangeiro também isso acho que é relativo. Já chegaram da Europa oitenta e um mil milhões de euros durante os últimos vinte e cinco anos. Algum desse dinheiro foi claramente destinado para essa área. Se não o foi a culpa é nossa.
Alguns cursos universitários fazem-me lembrar os pomares de maçãs nos anos oitenta. Os primeiros  deram muito retorno mas quando toda a gente transformou os campos de milho em pomares começaram a dar as maçãs aos porcos.
Boas festas para todos!
Até um dia destes.