EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Aqui vamos nós

No programa que tem na Antena 1 chamado ‘Amor É’, para mim um dos melhores programas de rádio a par do ‘Pessoal e Transmissível’ de Carlos Vaz Marques na TSF, Júlio Machado Vaz dá largas ao seu saber e com o seu raro poder de comunicação vai divagando com interesse fugindo muitas das vezes ao tema de cada programa. Numa das últimas divagações dizia ele que quando no consultório os pacientes lhe falam de bens materiais, muitos deles excêntricos, nada disso lhe diz nada nem fica com uma pontinha de inveja. Agora, quando na sua vida de cidadão comum lhe aparece alguém que diz que tem uma vida conjugal de trinta, quarenta, ou mesmo cinquenta anos e que é feliz, não trocava aquilo por nada deste mundo, aí, dizia ele, eu fico com inveja.
De facto viver décadas com a mesma pessoa e continuar a haver amor - o amor verdadeiro amadurecido pelo tempo - e respeito é obra.
Quando era garoto os poucos divórcios que haviam eram um caso “mediático” nas famílias e nos amigos. Os cônjuges esgotavam quase sempre todas as hipóteses de reconciliação. Quando não havia mesmo “remédio”  lá teria que ser e partiam cada um para seu lado refazendo a vida pois tinham trinta e tal ou quarenta anos.
Havendo muitos divórcios nas idades que referi, constata-se que os cinquentões, principalmente, mas também as cinquentonas, estão cada vez mais a partir para outra muitas das vezes de um dia para o outro deixando tudo para trás. Essa é que é essa. Quanto a elas, vá-que-não-vá, começam a usar a roupa parecida com a das filhas, principalmente o tamanho da saia, e cá vão elas.
Eles, a coisa fia mais fino. Depois de deixarem crescer o cabelo atrás e se roçarem uns meses nos balcões dos bares e discotecas, na primeira crise de reumático aqui vou eu para a primeira que aparece. E tudo começa de novo. Se houver tempo. Mas aí, eles, quais cordeirinhos. Felizes daqueles.
Até um dia destes.