EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Crescimentos

Nos primeiros anos da minha vida profissional discordei de um reputado administrador de um grande jornal, ao tempo, por este numa reunião de trabalho desenvolver uma lógica de avaliação quanto a mim errada.
Esse administrador, fazendo o balanço de um ano de desempenho das delegações espalhadas pelo país, criticava o aumento de 5% numa delegação que existia há décadas onde o mercado que lhe dizia respeito estava trabalhado de trás para a frente e vangloriava o aumento de 100% numa outra delegação que tinha aberto recentemente.
Traduzindo em números a primeira delegação passou, por exemplo, de cem para cento e cinco e a segunda de sete para catorze. Achei injusto e discordei.
Esta pequena história, verdadeira, lembro-a porque acho, não sei o que achar..., que grande parte dos economistas e pensadores do nosso tempo quando avaliam o crescimento dos países enfermam  do mesmo erro desse administrador.
Como é que os países que cresceram durante décadas, onde as pessoas/famílias na sua grande maioria vivem razoavelmente bem podem crescer infinitamente? Por exemplo, Portugal. Portugal, pós 25 de Abril teve que ‘mobilar’ todas as famílias que não tinham casa, carro, televisão, frigorífico, não faziam férias, etc, etc. Cresceu. Oh se não havia de crescer.
Hoje a grande maioria das famílias têm tudo aquilo elevado à terceira potência. Então como crescer? No mercado interno é complicadíssimo. Resta-nos as exportações que, com os ‘grandes senhores’ nessa matéria a produzirem, às vezes de formas ilegítimas, quase tudo mais barato também não se tornam fáceis.
Que vai haver uma reformatação social nos países ocidentais durante as próximas décadas não há dúvidas. E que vai doer, está a doer, também não.
Até um dia destes.