EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Mais pobre

Há cerca de quinze dias atrás fiquei mais pobre. Morreu o meu amigo Padre Augusto Vila-chã.
Arrancado de Verim, o Verim de há quarenta e dois anos atrás..., e atirado para a selva da grande cidade de Braga, era de facto assim que a via, tive para além da família uma grande âncora chamada Padre Vila-chã. Um Jesuíta maravilhoso.
Entre as brincadeiras que fazíamos na congregação na rua de S. Barnabé, que incluíam futebol, bilhar e muitas outras actividades, havia tempo para viajarmos pelo mundo através dos diapositivos que ele tinha adquirido em Roma e Timor.
Que fantásticos, também, os encontros, que duravam dias, em Soutelo onde aprendíamos a ser homens de barba rija sem complexos de cozinhar e arrumar os quartos. Havia prémios para a melhor cama feita. Desculpem a imodéstia...: ganhei uma vez.
Nas duas últimas duas décadas e meia encontrava esporadicamente o Padre Vila-chã que exercia, até há sete anos, as funções de capelão do hospital de Braga. Numa dessa intensas reuniões de passeio de rua, disse-me que iria deixar o hospital e já tinha acompanhado trinta mil pessoas na agonia das últimas horas. Que pequeninos que nós somos.
Sabendo que o Padre Vila-chã estava no hospital, desta vez como doente, fui visitá-lo e consegui estar sozinho com ele uns minutos. Pegou-me na mão e disse-me, com a candura e sorriso de sempre, sabes, já durei setenta e oito anos. Como amigo do actual Papa, “o Jorgito”, transmitiu-me que tinha receio que lhe fizessem mal: “o Jorgito é muito bom. Tenho medo que lhe façam mal”. Não vão fazer padre. O senhor, você, não vai deixar. Até um dia destes Padre Vila-chã.
Até um dia destes.