EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Não entendo

Estando Portugal perto da bancarrota e de um colapso social não entendo:
Porque o governo não pára com a arrogância em relação ao PS e não se senta à mesa a discutir o essencial, que ambos comungam;
porque o PS não pára com a arrogância em relação ao governo e não se senta à mesa a discutir o essencial, que ambos comungam;
porque é que os partidos mais à esquerda não moderam o seu discurso em momentos dramáticos como estes;
porque o PP de vez em quando parece querer estar no governo e na oposição;
porque o Presidente da República não dá um murro na mesa e impõe um consenso mínimo;
porque o Tribunal Constitucional não lê com mais abertura a nossa Constituição;
qual é a igualdade que há, ou que se pretende, entre funcionários públicos e privados;
porque os patrões precisam que seja o governo a decretar o aumento do salário mínimo se o podem fazer sem isso;
porque a Irlanda tem benefícios fiscais - a nível de IRC - para o investidor estrangeiro e nós não;
porque não se legisla benefícios fiscais, claros, para quem investir no interior desertificado;
porque não se reduz o preço das portagens se os seus accionistas iam ganhar mais com isso;
como vamos pagar a dívida com recessão ou crescimento anémico durante muitos anos e com juros de cinco por cento;
como podemos colocar todos os professores se não há crianças para ensinar;
como arranjar emprego para todos com a tecnologia existente;
como manter o estado social que temos tido com a população a aumentar a esperança de vida de uma forma significativa;
não entendo Mário Soares, depois de tudo.
Não entendo José Sócrates, depois de tudo.
Não entendo Manuela Ferreira Leite, depois de tudo.
Não entendo Pacheco Pereira, depois de ser preterido como deputado.
Não entendo António Capucho, depois de ser preterido do Conselho de Estado.
Não entendo!
Entendo, finalmente, Alberto João Jardim. Os palhaços entendem-se sempre.
Até um dia destes.