EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Brincar com o fogo

Os europeus - falemos só desses - com mais de cinquenta anos contactaram de uma forma ou de outra com a segunda guerra mundial ou com o seu rescaldo e consequências.
Já os mais novos nasceram e cresceram num mundo que, sendo cheio de dificuldades, estas não se assemelham minimamente àquelas.
Julgo que reside aqui uma das principais razões de tanta loucura.
A democracia, o tal regime que é mau mas é o melhor, está a ser levianamente ameaçado por votos de protesto.
Basta pegarmos nos exemplos da Grécia e de Itália para ficarmos de cabelos em pé.
Na Grécia, país semelhante ao nosso, quer em população quem na economia, quase ganhava um partido radical de esquerda, o SYRIZA, que, uma vez no poder, ou renegava a sua doutrina, ou a Grécia já não estaria no euro e, quem sabe, na União Europeia com as consequências que pode-riam resultar daí tanto para os gregos como para o resto da Europa.
Na Itália, meu Deus na Itália, nas últimas eleições cerca de cinquenta e cinco por cento dos italianos votaram ou no requentado e populista Berlusconi ou num actor cómico que, pelo seu lado, teve vinte e cinco por cento de votos e não tem a mínima preparação para o que quer que seja em matéria política.
Mário Monti, um intelectual italiano conceituadíssimo internacionalmente fez o sacrifício (!) de liderar um governo de tecnocratas que fez o que pode dadas as circunstâncias. Resultado: foi humilhado com cerca de dez por cento dos votos.
Mesmo com a classe política europeia desacreditada, estas brincadeiras só se podem entender como atitudes irresponsáveis de eleitorado mais jovem que não viveu na pele o que de outra maneira poderá estar para chegar.
Até um dia destes.